quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A (in)substância da sociedade contemporânea, ou a maldita trinca

(Elaborado na sequência de um trabalho proposto na disciplina de Português, subordinado ao tema: A importância da aparência na sociedade contemporânea)

A relação obsessivo-compulsiva que as sociedades modernas desenvolvem face à imagem, não é, convenhamos, um fenómeno característico da época contemporânea. Em verdade, ainda não eram sentidos os tumultos premonitórios da revolução francesa, e já no séc. XIII, D. Diniz, a fim de saciar a sua inquebrantável libido, se envolvia em casos demasiado voluptuosos para a contenção exigida ao emissário secular de deus na Terra.

Consumado que está o carácter não epocal da aparência, a pergunta a que urge responder é a seguinte: "Qual é, então, a origem da aparência enquanto variável sociológica?". Poderia sustentar a minha resposta em pareceres científicos, argumentando, quiçá, que uma dada inexorabilidade genética condiciona de tal forma a temperança humana que psicologicamente todos tenderíamos para a hipocrisia. Contudo considero a demonstração científica assaz insípida, visto não ser susceptível de contra-argumentação. Em conformidade, ajuizei pela enunciação da mais credível das obras no que toca a ancestralidade humana, ou seja, a Bíblia. Se dúvidas prevalecerem acerca da fidelidade factual das cenas narradas, solicito-vos que atentem na tiragem da mesma, que, como podem constatar, tem um sucesso mundial homólogo ao que o livro "Eu, Carolina" obteve em Portugal, o que, só por si, adensa a sua já elevada veracidade histórica. Remontemos aos vicejantes jardins do éden: Adão e Eva, talhados à semelhança de Deus, personificam o que de mais lapidar e impoluto se pode conceber. Eis senão quando Eva, tentada pela ardilosa cobra, trinca a maçã. Então, a luz se fez treva, e Adão e Eva foram expulsos do paraíso, já espoliados da sua candura primordial. O que tem isto que ver com a aparência? De facto, o culto da aparência mais não é do que a cruzada empreendida pelo Homem contra as compulsões naturais advenientes dessa mesma proscrição, jamais se conformando com as imperfeições que o seu próprio conceito veio a conglobar.

A título ilustrativo, debrucemo-nos em duas impulsões básicas do Homem: comer e procriar. No que ao acto de comer concerne, há muito que não é considerado um mero acto de subsistência. Na verdade, este conceito foi de tal modo mitificado que se gerou uma arte, a culinária, para dissimular este laivo de animalidade. Quanto à procriação, a fim de nos demarcarmos da irracionalidade animal, edificámos um sentimento, o amor, cuja máxima expressão material seria o acto sexual.

À luz do ideal religioso, o Homem celestial não era assaltado por sentimentos tão promíscuos como a inveja ou o ódio. Assim aflorou a hipocrisia, como método universal de resposta a todos eles.

Em função de tudo o que foi anteriormente mencionado, qualquer cidadão renega à diferença, pelo temor que esta lhe inspira. Àquele que ousar romper com a harmónica engrenagem social, ser-lhe-á imputada a culpa de violar os valores estruturais da sociedade. No fundo, será acusado de blasfemar, por evidenciar os apanágios menos abonatórios da raça humana.

Em reflexo, o Homem tende a reger-se por uma moral heterónoma, que se caracteriza pela delegação da responsabilidade das atitudes dos indivíduos em outrem. Com efeito, ao não transgredirmos o excesso de velocidade num troço rodoviário, executamo-lo, não por sensatez, mas por receio de nos afastarmos do padrão pré-institucionalizado e, consequentemente, pelo receio de sermos sancionados.

Após toda esta exposição, a pergunta que teima em irromper é "Se as sociedades criaram mecanismos que afiançam a aparência e, como efeito subsequente, a harmonia, por que é que o equilíbrio social não é incólume, à semelhança do paraíso?". A resposta reside na variável que distingue os conceitos de ser e parecer: o tempo. O ser é, por definição, perene, absoluto e indelével. Ao passo que o parecer é temporário, relativo e ilidível.

Vejamos, transpondo para a dinâmica real, a parábola do emigrante pródigo que, quando regressa à sua pátria, porfia em dialogar na língua do país para o qual emigrou. Todavia, em momentos de maior exaltação, não atípico é verificarmos que praguejam na sua língua de origem. Outro exemplo é a actual relação contenciosa encetada pela igreja católica contra Saramago. A igreja, enquanto instituição eclesiástica defensora da liberdade e fraternidade, esconjura o novo livro de Saramago, tão só pelo facto de este não se alinhar ideologicamente com os dogmas da mesma. Depreendemos, de novo, que a aparência só prevalece até que uma premissa exógena desperte a nossa alavanca nuclear, o instinto, que, fugazmente, de nós se apossa, retirando-nos o diáfano véu que nos cobre.


 

Façamos, então, um derradeiro encadeamento lógico:

A aparência é produto da religião.

A religião é o reflexo das frustrações do Homem.

A aparência é o reflexo das frustrações do Homem.


 

Posto isto, a aparência é a alfaia pelo homem escolhida, para dissimular a sua verdadeira essência. A bem dizer, é a expressão inequívoca de uma espécie que não se resigna com as características que lhe foram ofertadas pela evolução natural.

Infelizmente, não mais somos do que aqueles intelectuais que, vendo defraudadas as suas aspirações académicas, fumam cigarrilha, bebem whisky e assistem a ciclos de cinema europeu, com vista a tentar merecer tal designação.


 

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Revistas cor-de-rosa, Cristiano Ronaldo e IKEA

Caros leitores, tenho-vos a confessar que um horrível costume que me persegue e atormenta: uma inveterada fé nas colunas sociais, que pontuam como constelações as papelarias da nossa praça. Há nessas revistas algo que me inspira uma crença desmedida… Talvez as mui veneráveis senhoras que se apresentam perplexas com o paparazzi, que em monetário conluio com as mesmas, se apresta por entre um arbusto frondoso, elemento aliás impreterível no cenário cor-de-rosa; talvez as mui veneráveis famílias cujo melódico nome rivalizaria, em extensão, com o mais completo dos catecismos bíblicos. Em extensão, acentue-se, porque a Jesus, Judas ou Abel ainda lhes reconheço o mérito de serem internacionalmente reverenciados ou censurados, ao passo que a estas famílias ninguém conhece, excepção feita às pulgas, que sorvem o sangue aos cavalos da sua herdade, estábulo de tão ínclita linhagem; talvez os míseros seres que prostituem a sua biografia, tão chocante e promíscua como lucrativa, que alimenta uma verborreia proferida e redigida com uma solenidade de quem analisa as fortunas e dissabores de uma figura histórica; talvez…

Basta! Tenho que pôr termo a este meu insanável atributo de esgrimir tantos elogios de uma só vez. Com tanto mel vertido da minha boca, um dia mordo a língua e sou tomado por uma crise de diabetes. E, em verdade, o assunto que me leva a escrever é Cristiano Ronaldo. Por favor, absolvam-me das vossas críticas… Eu sei, eu sei, pareço o tio Paulinho, que, quando a matéria política escasseia, fala dos "indigentes" e sempre "preguiçosos" recebedores do rendimento mínimo, obtendo de imediato uma ascensão exponencial nas sondagens. Mas, convenha-se, Cristiano Ronaldo é o bastião da actualidade – mais do que o normal, entenda-se.

Cristiano Ronaldo teve um filho!!! Uau!!!! – tenho que me socorrer mais vezes de interjeições, tem piada. E então? Salvo o facto de suavizar as consternações de Cavaco Silva quanto à taxa de natalidade, em nada se demarca da realidade de outros tantos milhões de portugueses. Mas quando o visado é Ronaldo, até o mais singelo dos temas se intrinca.

O Primeiro tema sobre o qual a imprensa cor-de-rosa se debruçou foi o modus operandi da concepção, alcançando-se a unânime resolução da reprodução medicamente assistida. Há muito que estas "provetices" não despeitam ninguém e, atendendo à já manifestada via celibatária de Cristiano Ronaldo, em nada esta revelação melindrou a minha inabalável fé na imprensa cor-de-rosa. Com o segundo tema foi diferente… Neste, a mesma imprensa aventa um alucinante número de possíveis mães. Será moda porventura? É plausível. Hoje nada se executa sem a aprovação prévia de uma equipa multidisciplinar. Porém será uma razão suficiente? Eu cuidei que não. Invoquei então o engenho dos velhos sábios das C.C.F.E.J. (Crenças Claramente Falsas Estupidamente Justificadas), organização composta por todos aqueles que asseguram a existência de uma sociedade secreta, controladora do mundo, presidida por personalidades, tais como Kennedy, Elvis ou Marilyn Monroe. De imediato considerei que a minha crença na imprensa cor-de-rosa se revia nesta frente, preteri as evidências científicas, e formulei a minha teoria. Efectivamente, pensei, nada havia de falso na vasta colecção maternal do venturoso rebento, pelo contrário, tudo resultava de uma campanha publicitária do IKEA, protagonizada por CR7. O filho do craque foi desmultiplicado por vários ventres, parido em fragmentos, unidos em casa pela mão de Cristiano Ronaldo. Já antevejo os contornos do próximo segmento da campanha publicitária: Cristiano Ronaldo, em casa, sorriso rasgado, unindo a cabeça ao tronco do bebé, e dizendo (dezendo, segundo Ronaldo): " IKEA, construa você mesmo".

Mistério desvendado, fé renovada. Vou-me deitar, é tarde.

Post-scriptum: No fim da frase, Ronaldo cuspiu. Este contestou, não lhe apetecia, mas foi uma exigência da marca. Pretendiam que Ronaldo deixasse o seu cunho pessoal, para dissipar especulações de que seria um sósia. Afinal, há quem o supere a jogar futebol, mas ninguém cospe como Ronaldo.


 


 


 


 


 

sexta-feira, 2 de julho de 2010

José Saramago


Este Sábado,
21.30,
Entrada Livre.

domingo, 27 de junho de 2010

Do Iron Pub para o Blog. A questão da China...

Quatro anos após o fim da II Guerra Mundial ocorreu um importante acontecimento histórico. No ano em que os EUA perdiam o monopólio da bomba nuclear, 1949, no extremo asiático triunfava uma revolução de natureza comunista, a Revolução Chinesa. Está última teve um alcance que ainda hoje é bastante evidente, nem que seja pelo facto de passados 61 anos do discurso de proclamação da República Popular da China, feita por Mao Tse Tung na praça de Tien Amem, a China continua a estar presente em várias discussões. A crítica (quer negativa ou positiva) à China é feita recorrentemente. Não estaríamos a falar do país mais populoso do mundo, com uma cultura milenar que forneceu utensílios importantes no desenvolvimento do homem (como por exemplo o papel, a nota e a pólvora etc), de uma potência económica e nuclear dirigida por um Partido Comunista e que é actualmente a “grande fábrica do homem” a história seria outra. A China é uma incógnita, é um país onde a ordem económica vigente é nebulosa e duvidosa, pois, ao certo não sabemos qual é o sistema que está entranhado no país e, mais nutritivo para a discussão teórica, nas próprias elites políticas desta China: o socialismo ou o capitalismo.

Historicamente a China foi uma nação que esteve fechada do resto do mundo numa lógica do tipo feudal, tendo sido durante o século XIX forçada militarmente a submeter-se aos interesses económicos e regionais das potências capitalistas, disto é exemplo os «Tratados Desiguais», das «Guerras do Ópio», as ocupações de áreas chinesas por parte da Rússia e do Japão. Em suma, a partir, nomeadamente, de 1839 a China é um espaço de grande atracção para as potências mundiais e seus capitais. Há uma grande atracção por parte dos ocidentais sobre a China, pelo menos desde dos descobrimentos iniciados pelos portugueses. Face a esta penetração dos interesses ocidentais na China o historiador Fernand Braudel afirma que «a China só vai sair deste inferno com a constituição da China Popular, em 1949»1 , ou seja, a revolução comunista de 1949 marca uma ruptura decisiva no rumo do país. Convém, no entanto, referir que o comunismo chinês nasce apenas 28 anos antes do seu triunfo. Em 1921 é fundado o Partido Comunista Chinês (PCC) com apoio da Internacional Comunista, já havia sido proclamada uma República na China (1911) feita pelo movimento Kuomintang (que tinha apoio tanto dos EUA e da URSS), mas que na verdade nada mudou em concreto nas estruturas sócio/económicas chinesas. O PCC passa a ser um dos aliados do Kuomintang, porém, com a morte de Sun Yat-Sen, em 1925, ocorre um feroz ataque por parte do vice-presidente do Kuomintang, Tchiang Kai- Shek, contra os comunistas. Era o início da mítica «Longa Marcha» de 12 500 Quilómetros rumo ao soviete de Kiangsi no Norte do país do exército comunista e, principalmente, o início de uma guerra civil na China. A guerra civil acabaria com a derrota e fuga de Tchang Kai-Chek para a ilha da Formosa (actual Taiwan) onde estabeleceu um governo apoiado pelos EUA que durante décadas seria no plano internacional, essa pequena ilha, a representante da China na ONU. A China camponesa avança então para o desenvolvimento de um sector industrial. O seu primeiro plano quinquenal (1953-1957) obtém resultados extraordinários, ao ponto de muitos autores afirmarem que este plano obtém resultados históricos. Nos anos seguintes, de 1958 a 1959, as taxas de crescimento são de 34% e 22% por ano o que é simplesmente admirável. O desenvolvimento foi uma realidade, pela primeira vez na história da China, com a construção de estradas, da alteração da estrutura agrária, o avanço da electricidade, cuidados de saúde, e da indústria. Se no final da década de 40 a China não conseguia fabricar carros em 1962 consegue produzir a bomba atómica. O desenvolvimento industrial foi o objectivo, que traduziu acima de tudo um grande desafio para o país e sua realidade rural. Este foi correspondido com a adesão dos trabalhadores e camponeses, era a prova do prestígio que o partido tinha nas massas populares. Apesar do esforço violento pedido às massas, principalmente com o segundo plano quinquenal, estas corresponderam positivamente ao apelo, ainda que, a experiência agrícola chinesa recolha inúmeras críticas como tendo sido um verdadeiro fracasso, obrigando o governo a comprar milhares de toneladas de cereais ao exterior. É uma verdade que naquele tempo o desenvolvimento de um país estava dependente da existência de uma indústria pesada e ligeira, todavia, o sector agrícola não podia ser menosprezado.

Com a consolidação do poder do PCC na China começam certas e determinadas clivagens dentro do movimento comunista internacional em relação à actuação do comunismo chinês, que hoje ainda são actuantes. Desde da ideia lançada pela China dos «três mundos»; do «Grande Salto em Frente»; à «Revolução Cultural»; a dura crítica ao comportamento da URSS iniciado na década de 60 (ruptura sino-soviética); a crítica à crítica feita a Estaline no XX Congresso do PCUS; ao estabelecimento de laços de “amizade” entre a China e os EUA bem como a partidos duvidosos contribuiu para acentuar a dúvida dentro do movimento revolucionário internacional em relação à China, sendo esta agravada pelos trágicos acontecimentos em 1989 na Praça de Tien Amem e pela recentíssima «Economia Socialista de Mercado» (ESM). A China é responsável, independentemente da opinião que se tenha, pela dúvida e rupturas dentro do movimento comunista internacional. No caso português há exemplos disto, por exemplo durante o PREC a República Popular da China não reconhecia o PCP como o partido revolucionário, mas sim o PC (m-l), em Angola apoiou, juntamente com os EUA, a UNITA e a FNLA invés do MPLA. Consequentemente, líderes comunistas faziam críticas à China como foi o caso de Álvaro Cunhal que em 1977 afirmou que «a China é o maior país em população. É pena que os dirigentes chineses tenham imprimido à política da China esta orientação, porque podemos dizer que, se tivessem imprimido uma orientação comunistas revolucionária, fundada nos princípios do internacionalismo, podemos dizer, a revolução socialista estava ganha mundialmente»2. As relações entre o PCP e o PCC só seriam normalizadas em 1988 quando pela primeira vez uma delegação do PCC assistiu a um Congresso (XII) dos comunistas portugueses. Relembre-se que o próprio Álvaro Cunhal somente visitou a China, pela primeira vez no ano de 1986, ao contrário de Mário Soares que já o tinha sido feito em 1980.

A China, ou melhor, a República Popular da China e a sua «Economia Socialista de Mercado» é, sem dúvida, a grande questão problemática de reflexão teórica dentro do movimento comunista internacional. Se há autores marxistas, como o filosofo Domenico Losurdo, que fundamentam as suas opiniões no sentido de expor a China como capitalista no plano económico e comunista no plano político sendo a sua ordem social/económica uma espécie de Nova Política Económica (NEP) gigantesca e expandida, há por outro lado outros, como Thomas Kenny, que alertam para os perigos e contradições que há na ESM perante posições revolucionárias. Perante isto, e portanto, o movimento revolucionário internacional, sobretudo o comunista, encontra-se numa amálgama ideológica no que diz respeito à análise teórica da situação chinesa.

Ao ser verdade que a ESM é uma política económica do tipo NEP, é mais verdade que ambas nasceram em circunstâncias históricas distintas e específicas. Definitivamente, os seus resultados e aspirações são distintos. A URSS durante a NEP conseguiu, mesmo assim, estar economicamente independente da economia mundial e a duração da NEP foi curta (1921-1929). O partido soviético conservou o cuidado de vigiar atentamente a economia durante a NEP e tirar as devias alusões do avanço da NEP, ao contrário do partido chinês que permitiu o aprofundamento dos mecanismos de uma economia de mercado e a forte incursão dos interesses capitalistas dentro do seu espaço. Por último, no tempo da NEP havia, somente, uma potência socialista (URSS), o recuo era deveras vital, ao contrário no tempo da ESM onde havia espaço para aprofundar as relações entre as potências socialistas, mas contrariamente a isto a República Popular da China optou por dar um forte contributo na ofensiva ideológica contra a URSS. Todavia, é claro que há semelhanças entre a NEP e a ESM. Ambas tinham o objectivo de reforçar economicamente o país (em ambos os países havia uma forte tradição feudal e domínio dos campos), a atracção de capitais para o desenvolvimento industrial, aumentar a riqueza dos trabalhadores e, principalmente, do aparelho de Estado para que fosse possível a materialização de melhorias sociais na sociedade e garantir a sua independência face ao exterior. Por fim, ambas promoveram mecanismos económicos e políticos que facultaram uma económica de mercado e a propriedade privada, ou seja, a emergência de camadas sociais que são adversas ao projecto socialista. Não me parece de todo, e apesar de algumas semelhanças, que a ESM seja uma NEP. A ESM sofre, naturalmente, influências da NEP, mas efectivamente a comparação entre a ESM e NEP como homólogas é nada mais do que uma defesa ideológica.
Sendo um facto consumado a ampla integração da China na economia capitalista mundial, e suas instituições como é o Banco Mundial do Comércio e o FMI, é logicamente um facto inegável que há exploração do homem pelo homem, uma política assente em baixos salários e desemprego na China, pois, isto é inerente ao sistema capitalista. Não haja dúvidas neste ponto, onde há capitalismo há exploração e miséria. A lógica capitalista actuante na China não é, certamente, diferente da lógica capitalista existente em outros lugares do mundo (podendo o seu grau ser mais ou menos violento). Além deste importante facto, outros problemas surgem na China como é o aumento da corrupção, o aumento do fosso entre o partido e as camadas populares (operariado e camponeses), o fosso entre ricos e pobres e o surgimento de largas camadas da burguesia e capitalistas que são contrárias ao projecto socialista. Estes factos e forças sociais, que como afirmou um amigo meu, «nada mais fazem do que parasitar dentro do Partido», comprometem o avanço de um possível projecto revolucionário. Mesmo tendo noção desta realidade a afirmação que a República Popular da China é um regime capitalista onde o Capital é Rei e Senhor não me parece que corresponda à totalidade da verdade, pelo menos por enquanto. O que é verdade é a visão actual e difundia pelo mundo de uma China que é encarada como uma enorme linha de montagem de todos e qualquer tipo de produtos sem condições e respeito pelos trabalhadores.

Ao optar por esta trajectória a República Popular da China ficou dependente do imperialismo e do Capital, isto é, a presença de inúmeras fábricas estrangeiras na China contêm um importância estratégica para o desenvolvimento pretendido pela China. Face a este caminho escolhido pelo partido de manter o crescimento anual do país com índices altos, faz com que a pressão e a ofensiva contra uma tentativa de melhoramento da regulamentação das relações laborais sejam forte e perspicaz. Este facto conjugado com a ascensão de indivíduos deste quadrante dentro do partido faz com que até a própria manutenção da ESM esteja posta em causa num futuro. Em suma e genericamente falando, a ESM precisa da manutenção dos capitais e das empresas no país para manter o desenvolvimento do país ao ritmo desejado, porém o grande capital estrangeiro só aceita ficar no país a conviver com um partido comunista desde que esteja garantido e assegurado os vários mecanismos de economia de mercado. Procura-se encontrar um equilibro, até a China ficar forte o suficiente para avançar para o socialismo, na correlação de forças entre as forças capitalistas e as forças socialistas, no entanto, este equilibro não é definitivo.

Não obstante, há dados a reter do comportamento da China em relação ao seu progresso social. Em primeiro lugar a China é um país com uma dimensão tremenda, e apesar da sua tremenda dimensão o seu projecto, criticável ou não, conseguiu tirar mais de 600 milhões de pessoas da pobreza desde de 1981. O próprio Banco Mundial num estudo recente afirmou que a China é responsável por 67% dos resultados no que toca a eliminação da pobreza mundial nas últimas décadas. A UNICEF reconhece um enorme mérito as autoridades chinesas que conseguiram reduzir os índices de pobreza drasticamente. Em agências oficiosas e governativas dos EUA podemos recolher dados, no mínimo interessantes, que nos deixam admirados. Segundo a CIA a percentagem de pessoas a viver abaixo do linear da pobreza na China é uma das mais pequenas do mundo, cerca de 2,8% da população (os mesmos dados apontam que em Portugal e outros países ocidentais é mais de 10%, e na Índia que é o segundo país mais populoso atrás da China mas ocupará a primeira posição dentro de anos, era de cerca de 27% em 2007). Ainda nos mesmos dados podemos verificar que desde de 2007, e apesar do avanço da crise capitalista, o rendimento per capita dos chineses tem vindo a aumentar: em 2007 era de $5,700 subindo para $6,600. Em relação ao número de desempregados a China ocupa a 38ª posição da lista de países com menos desemprego, ficando os EUA na 108ª posição, numa lista de 200 países. Fazendo contas aos dados fornecidos pelo Departamento do comércio, economia e estatísticas (Censos) do EUA é possível extrair que perto de 13% da população americana é pobre. Com uma pesquisa rápida encontra-se notícias sobre a nova lei aprovada do Contrato de Trabalho na China que entrou em vigor em 2008, que coloca importantes limites as empresas estrangeiras. Há também várias notícias sobre a regulamentação e fiscalização por parte das entidades chinesas às empresas internacionais como foi o caso da libertação de 600 pessoas, entre as quais crianças, idosos e deficientes mentais que tinham sido feitos escravos numa empresa no centro do país. É inegável que foi graças ao projecto que norteou a República Popular da China que foi possível modernizar e desenvolver o país. Para terminar é importante salientar que na China vivem cerca de 1 323 591 583 indivíduos, «há demasiada gente, há sempre demasiada gente na China» é a ideia comum em relação à população chinesa, mas, a verdade é que há realmente muita gente na China, mas esta gente apesar de tudo não pára de crescer desde de 1952 (nesta data eram “só” cerca de 572 milhões), o que por si demonstra que houve condições para criar estas pessoas.

Em jeito de conclusão, não encaro a República Popular da China como a «pátria dos trabalhadores» ,para obter esse título será necessário uma forte mudança sócio/económica no país, contudo, também não encaro a China como aquele país onde todos e mais algum são fortemente explorados. Houve, e há, melhorias substâncias na China. Todavia, e dado que o objectivo final continua a ser a construção do socialismo e de uma sociedade sem exploradores e exploradores na China muito há para ser feito e melhorado. As relações económicas e de produção precisam de ser repensadas e revistas, sendo importante aumentar a produção e, consequentemente a riqueza nacional, mas esta não deve ser feita servindo os interesses do Capital (exploração dos trabalhadores), mas sim, os trabalhadores, camponeses e com uma melhor atenção à protecção e direitos no mundo do trabalho. A dinâmica de comando da ESM não pode fugir ao controlo do Estado e do partido. O aparelho partidário deve ser uma estrutura ao serviço, e em contacto com, das populações quer urbanas quer camponesas, e não um espaço de ensaio para as forças contrárias ao socialismo. A China precisa de continuar a desenvolver-se economicamente, precisa de continuar oferecer à sua população melhorias de vida e direitos vitais (como a saúde e educação) bem como continuar apostar no fabrico de bens de consumo para satisfazer as populações. Não pode, nem deve, ficar subordinada ao capital estrangeiro ou nacional. Se foi os campos que garantiram o apoio decisivo ao PCC, este não pode menosprezar os campos face ao urbano. O caminho optado pela direcção comunista Chinesa não foi o mais correcto politicamente como demonstram vários exemplos históricos, alguns citados aqui no texto. Mas, para o bem ou para o mal, foi este o escolhido e que deve ser avaliado.
A experiência fracassada na URSS deve ser levada em conta na concretização de um possível socialismo na China, ou em qualquer parte do mundo. É importante, reflectir e analisar a situação política, social e económica da China, pois, actualmente o projecto socialista e internacionalista, bem como de certa maneira o projecto capitalista, está dependente daquela realidade asiática. Seja como for, e seja o que a China for, mais dia, menos dia haverá uma ruptura definitiva nesse país, visto que, os vários interesses antagónicos que estão presentes naquele país estão a preparar o terreno para avançar. «O PCP observa o processo revolucionário na China a partir de posições de classe, apoiando nos princípios fundamentais do marxismo-leninismo e tendo em conta a experiência revolucionária própria e a experiência do movimento comunista e revolucionário mundial. E isso conduz a algumas grandes interrogações e mesmo inquietações quanto ao futuro socialista da China»3 , eu acrescentava a isto, para dissuadir quaisquer dúvidas, uma preocupação pelo facto de não ter havido ainda um alastramento à totalidade da população as melhorias substanciais que grande parte da população usufruiu com a revolução. Tendo a noção da grande dimensão daquele país, elemento que deve estar sempre presente na discução e análise sobre a China, é lógico que as melhorias de bem-estar na população não ocorrem de um dia para outro, é um processo demorado e árduo. Porém, este processo pode estar colocado em risco quando sabemos que há uma intensa luta de classes na China com um partido comunista ideologicamente deformado. É, deveras, assustador saber que há pelo menos cerca de 230 mil chineses que detêm mais do que um milhão de dólares em bens financeiros sabendo que há pelo menos 2,8% da população que vive abaixo do linear da pobreza, além de ser a prova provada que há uma forte burguesia capitalista e financeira interessada em proteger e salvaguardar o seu capital. Ou seja, a ruptura na China não será feita pacificamente, há muito em jogo (tanto no plano nacional como internacional). Resta observar o futuro para verificar o desenrolar dos acontecimentos na República Popular da China quando o momento chegar. O que não pode é continuar activa é uma enorme promiscuidade entre sectores ditos revolucionários e capitalistas que tem vindo a consolidar-se desde de 1978, quando o PCC em nome da construção do socialismo envergou por um caminho perigoso. Se é verdade que as vicissitudes do “socialismo de mercado” atraíram, principalmente, muitos intelectuais devido aos feitos que a China alcançou, é também verdade que o “socialismo de mercado” chinês carrega enormes realidades que actuam como um forte desprestígio para a causa do socialismo internacional.

Notas:
1 - Fernand Braudel, Gramática das Civilizações, p. 197.
2 - Álvaro Cunhal, Uma Política ao Serviço do Povo, Edições Avante!, 1977, p. 258.
3 - Nuno Albano, «A revolução chinesa foi há 60 anos», in O Militante, P 38.

Bibliografia:
BRAUDEL, Fernand (1989). «A China de ontem e de hoje». In Gramática das Civilizações. Editorial Teorema 197-212.
KENNY, Thomas. Lições da NEP soviética para «Economia Socialista de Mercado» da China Popular.

NUNES, Albano (2009). «A revolução chinesa foi há 60 anos», in O Militante, Nº 303, 34-39.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

.Virar costas às Rotas Nórdicas

.Adeus às estradas cheias de bicicletas e um beijo para quem fica!


Hey Hey Vicky!

sábado, 12 de junho de 2010

Um pequeno apanhado do que passou

Há três anos a fazer coisas espectaculares pela noite a dentro nesse espaço que é o ISCTE.


«Os tenebrosos anos do Estado Novo não permitiram o crescimento necessário do número de médicos em Portugal, comprometendo seriamente o acesso à saúde para uma imensa maioria dos portugueses. Os entusiásticos anos após o 25 de Abril permitiram, também nesta área, grandes conquistas para o desenvolvimento do país. Com a entrada na UE, e ao contrário do que seria de esperar, voltou-se a um ritmo de crescimento semelhante aos anos anteriores à revolução.» […]

«Existe uma grande assimetria entre os distritos de Setúbal e Bragança na questão dos casamentos não católicos e dos divórcios. No período em estudo ocorreram 678 casamentos não católicos em Bragança contra os 28 771 realizados em Setúbal.». […]


«Tentámos ainda observar se a Biblioteca-Museu República e Resistência se encontra bem inserida junto da população do bairro onde se situa, tal como tentámos observar o funcionamento das suas restantes valências, como é o caso das exposições, do anfiteatro, do cyber-café, dos computadores e da internet». […]

«Este documento atribui se a sua autoria ao Padre José de Oliveira Berardo, sendo amigo pessoal de Almeida Garrett, Feliciano de Castilho e de Alexandre Herculano». […]

«Fabricação de Heróis». […]


«Por fim, e em jeito de curiosidade o termo pelo qual e conhecida a Crise de 1929, “Sexta-feira negra” é um termo que serve para classificar uma crise bolsista destas dimensões, devido essencialmente a uma grave crise na bolsa que se avivou num sexta-feira do ano de 1869 nos EUA. Na crise de 1929 o crash da bolsa ocorre numa quinta-feira, e não numa sexta-feira, inclusive na sexta-feira ocorreu uma pequena recuperação da bolsa». […]


«O II Acto começa com a nomeação de Francisco de Toledo como vice-rei do Peru, chegando lá em Outubro de 1569». […]


«2º O auge do Império. 1587 – 1666. (Neste período é auge do Império Safávida. O grande legado de Abbas I é já um sistema administrativo centralizado, forte exercito, e um estado já com as fronteiras perfeitamente definidas. É com ele que se estabelecem contactos com os europeus. Existe um clima de tolerância, que permiti ao estabelecimento de colónias europeias em várias partes do país e outras ordens religiosas a construir conventos.)». […]


«De facto, a luta armada não era o único caminho para a autodeterminação; porém, foi o único que o regime deixou em aberto aos nacionalistas angolanos que depois de algum tempo parados a observar os perigos desse duro caminho e não vendo outros atalhos, decidiram, então, caminhar». […]


«Como o próprio Melo Antunes reconhece mais tarde: é um documento «absolutamente condenável» no ponto de vista militar.». […]


« O historiador não tem dias marcados para seguir esta ou aquela linha de investigação, ou seja, é complicado afirmar que o nosso primeiro passo na investigação foi isto e o segundo aquele. Ao efectuar uma investigação o historiador estabelece um forte e permanente esforço mental com o seu objecto histórico, sendo por isso bastante complicado assumir a ideia que no dia "x" fez "A" para no dia seguinte fazer o "B" porque o "A" já tinha sido feito no dia antes. Em suma, o historiador durante a sua investigação repete por diversas vezes o mesmo acto, ficando então activo um género de cruzamento onde circulam concomitantemente várias acções (levantamento de problemas, pesquisa, leitura de estudos, arquivos, confronto com fontes, etc.) que só serão interrompidas pelo próprio historiador, isto é, quando este achar que a sua investigação chegou ao fim. […]A ideia inicial que norteou o projecto revelou-se, à medida que se foi aprofundando a investigação, de alguma forma, incorrecta. Os cine-clubes foram, apesar dos objectivos dos seus principais dinamizadores, organizações predominantemente intelectuais. Por isso, os concelhos escolhidos para delimitar a investigação acabaram por ter muito pouco (ou nada) para nos mostrar. Ainda assim, existiram actividades cinematográficas, e de alguma forma pegando no espírito destes cine-clubes. No entanto, na sua forma e nos seus objectivos, não se tratavam de verdadeiros cine-clubes. A hipótese colocada inicialmente foi sendo refutada perante as evidências resultantes da investigação. Colocam-se nesta fase, portanto, novas hipóteses para um aprofundamento que não cabe nos limites deste trabalho.»

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Hitler, Uma Biografia.

Um livro que ao ser folheado transmite os moldes que permitiram a ascensão de Hitler, bem como põem em nu a profundidade do terror nazi na Europa. São 838 páginas concentradas em Adolf Hitler, que na verdade deveria ter sido Adolf Schicklgruber (pai trocou o nome por Hitler em 1871), nascido na Áustria em 20 de Abril de 1889.O indivíduo que evitava consumir carne, álcool ou fumar. Na juventude manteve boas relações com Josef Neumann (que era judeu) e com o médico que tratou a sua mãe às portas da morte que, também, era Judeu. Foi recomendado para ser condecorado com a Cruz de Ferro na I Guerra Mundial por um oficial judeu. São 838 páginas que são mais do que uma Biografia de Hitler, são de certa maneira, uma biografia da própria Alemanha daquela época.


«Acima de tudo, foi um farol de alerta que continua a brilhar com toda a intensidade: mostra como uma sociedade moderna, avançada e culta pode mergulhar tão rapidamente num barbarismo que veio a culminar numa guerra ideológica, numa conquista de uma brutalidade e voracidade que mal se poderiam ter concebido, a par de um genocídio a que o mundo nunca assistira até então» […] «Pode dizer-se que Hitler forneceu a ilustração clássica da máxima de Karl Marx segundo a qual «os homens escrevem a sua própria história, mas sob determinadas condições que lhes são impostas» […] «Hitler foi o principal autor de uma guerra que deixou mais e cinquenta milhões de mortos e ainda mais milhões de pessoas a chorar os entes queridos que perderam, enquanto tentavam refazer as suas vidas destroçadas. Hitler foi a principal inspiração de um genocídio como o mundo nunca tinha conhecido e que seria correctamente visto em tempos vindouros como um episódio que definiria o século XX. O Reich cuja glória ele procurou alcançar acabou destruído, com o que restou dele a ser dividido por entre as potências vitoriosas e ocupantes. O arqui-inimigo, o bolchevismo, manteve-se na própria capital do Reich , presidindo a metade da Europa. Até mesmo a população germânica, cuja sobrevivência ele dissera ser a principal razão da sua luta política, revelou-se em última análise dispensável para ele.» In Hitler. Uma Biografia, by Ian Kershaw.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

.Oube' lá


Eles vão falando para ninguém ouvir, InêsOink

.Quando acomodamos o dedo ao botão e a bacia ao sofá...
Quem não lê, é como quem não vê.
Vá lá pega num livro e desliga a TV.
Confessa lá agora que tu até te sentes mal,
Por só leres as legendas e os títulos do jornal.
E diz-me afinal o que é melhor que ler?
Talvez comer, talvez beber, talvez ahahahah...
Mas afinal a leitura dá-te alimento intelectual.

(...)
Junta a prosa à gasosa
E mistura ainda um sofá
Deixa marinar...
E é uma tarde bem passada.
Desliga a TV, Ninivitas

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Faleceu Rosa Coutinho

Faleceu o Almirante Rosa Coutinho, um militar de Abril.
Logo após o golpe que ocorreu naquela Quinta-feira de Abril de 74 integrou a Junta de Salvação Nacional. E, chegou a coordenar o Serviço de Extinção da PIDE-DGS e da Legião Portuguesa.

Destacou-se por uma forte posição progressista e de apoio as camadas populares e trabalhadores dentro do MFA.

Ainda desempenhou tarefas importantes em Angola durante a descolonização.


«Hoje já não há medo da PIDE, da censura, das perseguições políticas (à velha maneira...), mas em contrapartida criaram-se outros medos também inimigos da liberdade: medo do desemprego, medo de não ter condições para uma velhice feliz, medo de não conseguir educar os filhos, medo de não ter acesso à saúde, todos estes medo continuam a existir, e todos eles têm de ser combatidos em nome de uma liberdade que o País conseguiu com o 25 de Abril».

O corpo de Rosa Coutinho está em câmara ardente na Capela de São Roque, nas instalações da Marinha, realizando-se o funeral quinta feira a partir das 15:00.

sábado, 22 de maio de 2010

Eu não queria, mas, sabes, o mundo mudou…

Boa noite caros leitores. O autor deste blog tem o prazer de vos confidenciar que num momento em que devia reflectir acerca do sentido da existência, a fim de redigir um trabalho para a disciplina de filosofia, se viu na obrigatoriedade de vir revelar uma história que considerou assaz interessante.

Carlos Manuel, um pouco à semelhança de todos os portugueses, rejubilou ao ver a última entrevista feita a José Sócrates. Ele, Carlos, nunca pensou ser tão do seu agrado um momento televisivo dedicado à política, habituado que estava a desancar, com suprema autoridade, nessa "classe de parasitas", segundo declarações recolhidas no breve intervalo que sucede a sucção de um caracol e o tragar de um outro, na tribuna do Aires.

Qual o motivo de tão súbito agrado? Sabem, Carlos Manuel é um característico português que tende para este desígnio nacional da chico – esperteza, revertendo em seu favor mesmo a mais rebuscada das situações. Quando escutou o primeiro – ministro José Sócrates proclamar que " o mundo mudou em três semanas" e que, se tomava medidas de austeridade que pouco antes havia execrado, era porque a situação envolvente determina, em muito, o poder de decisão de um homem.

Precipitou-se no seu projecto… Há muito que fitava uma rapariguinha bem torneada a quem, de soslaio, deitava uns olhares penetrantes aos quais ela não se furtava, conhecedora do passado de Carlos Manuel como oficial da GNR, no tempo em que os perus amnésicos e o verde papel do esquecimento eram parte da carteira profissional. Nessa noite o acto foi consumado.

No dia seguinte, os ecos da adúltera relação já ressoavam no bairro inteiro – consta até que os Gato Fedorento foram despromovidos na sequência deste episódio, ficando a publicidade do Meo Fibra a cargo da Virgínia parteira, da Zulmira zarolha e da Quitéria dos desmanches. A esposa de Carlos Manuel soube do sucedido. Por conseguinte, foi de encontro a Carlos Manuel com o espírito enraivecido e olhos coléricos, clamando por explicações. Este, bonacheirão, esboça um sorriso mais rasgado do que o de um vendedor de enciclopédias, advogando que a culpa não era sua. Ela, do fundo da sua indignação, perguntou-lhe como fora ele capaz de a trair, quando dias antes lhe havia jurado amor eterno no aconchego do leito. Carlos Manuel, reerguendo-se na cadeira e com um rasgo de triunfo nos lábios, alega que o mundo tinha mudado. O ambiente de escuridão, em que fizera essa confissão, em nada se comparava com a ebulição do instante em que o remate do decote da rapariguinha gingou num movimento convidativo, transportando-o para uma outra noção de espaço e tempo. Em suma, a culpa não era sua, a envolvência caliente conduziu-o a adoptar uma conduta que jamais poderia equacionar na quietude da alcofa. A esposa, assim como a maioria do povo português, compadeceu-se com a justificação. Soltou uma lágrima, recriminando-se por ter odiado alguém que não podia antever o movimento das rodas da História. Em verdade, reconciliaram-se de imediato, regressando ao seu estimado leito e encetando uma caixa de preservativos com uma taxa de IVA de 21%.

Post Scriptum: A mulher de Carlos Manuel estava a passear pelo Algarve, quando senão encontra ocasionalmente Manuel Pinho. Este faz-lhe um gesto em que aproximou dois dedos hirtos à sua testa; ela, pensando tratar-se de um trejeito característico do golfe, ignorou e prosseguiu despreocupada.

 

quinta-feira, 20 de maio de 2010

.2010 ou 1872? Era ou ainda É?


Era ou É?, InêsOink

.Algures nos baús perdidos encontrei um texto que me fez lembrar algo, uma espécie de déjà vu, dizia que...

Nós estamos num estado comparável sómente à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, mesma trapalhada económica, mesmo abaixamento de caracteres, mesma decadência de espírito. Nos livros estrangeiros, nas revistas quando se fala num país caótico e que pela sua decadência progressiva, poderá... vir a ser riscado do mapa da Europa, citam-se a par, a Grécia e Portugal.
As Farpas (1872), Eça de Queirós

quarta-feira, 12 de maio de 2010

.Agora acordar, respirar fundo, mais fundo ainda, pôr os pés no chão...

. ... três quilómetros a pedalar; casas e lagos e verde a formar um círculo, a emoldurar uma paisagem; ler um livro num parque escolhido a dedo, fechar os olhos e acariciar a relva lentamente; molhar os pés, lamber os dedos, fazer um mapa estelar, roer as unhas até doer, gargarejar, rir alto, andar a olhar o céu, cair no chão, gritaaaaaar, saltar mais alto, provar o ácido, queimar-me no gelo, chorar, parar de chorar, respirar fundo, ainda mais fundo, cabeça no ar a jogar ao esconde-encontra.

Algures ouve-se um burburinho...
I never never want to go home
... because I haven't got one anymore
... because it's not my home
it's their home...

Take me out tonight...
The Smiths


There is a Light that Never Goes Out, The Smiths

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Protestos na Acrópole

Na década de 80 «as políticas keynensianas dão lugar a políticas neoliberais, que fazem pressão sobre os salários e sobre as despesas públicas com a finalidade explícita de restaurar os lucros [...] Estas políticas [neoliberais] restabelecem o lucro global das empresas e portanto as suas possibilidades financeiras de investir: era o resultado pretendido. Resultado não pretendido mas inevitável: estas mesmas políticas, fazendo pressão de maneira cumulativa sobre a procura dos assalariados e do Estado, contraem os mercados globais e reduzem assim as oportunidades de investimento rendível para as empresas. O lucro global é investido então maciçamente não em operações de produção [aparelhos produtivos nacionais], mas em operações de transferência de propriedade: absorção de empresas privada, aquisição de empresas públicas (é o fenómeno das privatizações). especulação com as moedas e com os títulos (é o fenómeno da «bolha financeira»). Tais operações redistribuem a propriedade dos meios de produção e do dinheiro: numerosas empresas e grupos encontram aí um meio privilegiado para se desenvolverem e alargarem a sua esfera de influência, para aumentarem o seu poder económico. Mas estas operações não alargam a produção e o emprego: o crescimento permanece fraco e o desemprego continua a expandir-se».
Fonte

Visto que na Grécia os trabalhadores estão a ser confrontados com um ataque extremamente violento aos seus direitos e qualidade de vida (diminuição das pensões, ordenados, fim do 13º e 14º mês, aumento do IVA para 25%, etc) porquê é que foi aprovado este pacote financeiro com o objectivo de "auxiliar" a Grécia? Para combater estas carências que o governo grego não pode (e não quer) facultar ao povo grego? Não, não, não. É, sim, para ajudar o grande Capital a recompor-se à custa, não só da classe trabalhadora grega, como à custa dos povos da União Europeia.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

A Revolução Bolchevique de 1910 em Portugal.

Como a República portuguesa faz 100 anos,
Como o Santo Padre vai visitar o país nos próximos dias,
Este filme de Hollywood, a meu ver, retrata muito bem a revolução Bolchevique portuguesa de 1910, se alguma vez tivesse ocorrido, está claro.
Tanto do ponto de vista histórico, como de tudo, é simplesmente um «GRANDE LOL».

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Desabafo de alguém...

A ofensiva agora (?) é contra o subsidio de desemprego, na ideia de resolver a crise financeira. As pessoas não querem trabalhar, por isso ficam em casa a receber subsídio de desemprego é a deixa dos nossos dias, pois bem e não digo que não os haja, mas gostava de perceber como é que se resolve a situação do desemprego se não são criados novos postos de trabalhos no país com condições para as pessoas. Optou-se pela aposta em políticas de austeridade e não na dinamização da economia do país que permita criar emprego. O Estado deveria ser a força motora do desenvolvimento do país, mas ao contrário, opta-se por políticas que forcem as pessoas a empregar a sua força de trabalho a custo reduzido como pedem os patrões (CIP). Por outro lado, a riqueza disponível diminuiu o que cria dentro do próprio capital contradições entre si e, nomeadamente, conflitos entre o grande capital pela riqueza produzida.
Os jornais estrangeiros (sem ligação a esquerda) afirma que a entrada do Euro em Portugal foi responsável pelo fraco crescimento económico português aumentado a fragilibilidade do país. Alguém, ligado a esquerda, já o tinha alertado na altura...

E, também importante, relembrar que as pessoas que estão no fundo de desemprego é porque descontaram para isso, é um direito não um privilégio, se há privilégios é para o sistema financeiro e seus actores que tem os governos a seu dispor para subtrair a maioria a riqueza que perderam com a crise causada por eles mesmos. As pessoas merecem uma vida melhor e, sobretudo serem tratadas como pessoas que o são e não encaradas como parasitas que somente prejudicam o país. O desemprego cria situações muito complexas e não só pela falta de dinheiro. A ideia de estar em casa e não fazer nada é fracturante para as familias... o sentimento de saber que é se últil, mas que não há oportunidade de emprego é fracturante para o ser humano, entre outros casos.
A ideia de retirar este dinheiro aos desempregados lançandos deste modo estes desamparados para o vázio não parece que seja digno de uma sociedade do século XX.

É muito redutante ter a visão que a culpa da crise é dos desempregados, aliás, é imoral e ate grosseiro.

Nos últimos tempos o governo teve que substituir a iniciativa privada para salvaguardar esta (afirmações dos próprios governantes). Ao que parece a iniciativa privada também tem um género de fundo de desemprego…

O país desde 2000 que pouco ou nada cresce. Em história, se há algo certo, é que as situações não ficam iguais na sua amplitude, isto é, engane-se aqueles que pensam que com estas políticas o mundo fica como o era em 1999.

Por fim, o povo pode absorver a “violência dos mercados”, mas a” violência dos trabalhadores” é mal recebida e sujeita a forte criticas…
Estamos, enfim, reféns das agências de Raking, apesar de nada sabermos delas...
A crise capitalista de 1929 é apontada como tendo o seu fim em 1933/34, contudo as políticas de resposta feitas nessa época foram de outra natureza... e, apesar disto, é nótorios sinais da crise nos tempos da II Guerra Mundial, ou seja, só com a II Guerra Mundial é que na sua totalidade ultrapassada. É notório nos tempos que correm um crescimento das actividades bélicas e dos exércitos.
Bom e agora para acabar mesmo, mais uma vez está confirmado que fomos enganados : Não estamos a sair da crise, desta crise que é capitalista...

domingo, 25 de abril de 2010

.É!


'Pensar por si só É uma Virtude, Liberdade É uma Atitude', InêsOink

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Sofia de Oliveira Ferreira Santo

«Faleceu Sofia de Oliveira Ferreira Santo, aos 87 anos. Aderiu ao PCP em 1945, passou à clandestinidade em 1946. Presa pela primeira vez em 1949 com Álvaro Cunhal e Militão Ribeiro, passou mais de 13 anos nas prisões fascistas. Exercendo diversas responsabilidades, antes e depois do 25 de Abril, integrava o Grupo de Trabalho do Arquivo Histórico do PCP.

Tendo aderido ao Partido Comunista Português em 1945, Sofia Ferreira passou à clandestinidade em 1946. Exercendo diversas responsabilidades desde esse momento – primeiro na imprensa clandestina, depois em tarefas junto do Secretariado do Comité Central, e mais tarde integrando a Organização Local do Porto onde foi responsável pela organização partidária em empresas têxteis e em serviços da Função Pública –, Sofia Ferreira foi eleita para o Comité Central no V Congresso em 1957, responsabilidade que manteve até 1988.

Presa pela primeira vez em 1949 na casa do Luso com Álvaro Cunhal e Militão Ribeiro, Sofia Ferreira voltaria a conhecer a prisão e a tortura em 1959, tendo passado mais de 13 anos nas prisões fascistas.

Depois de algum tempo na União Soviética, Sofia Ferreira regressa em 1969 à luta clandestina assumindo, primeiro, tarefas na Organização Regional de Setúbal, integrando depois a Direcção Regional de Lisboa tendo desempenhado várias tarefas de responsabilidade até ao 25 de Abril de 1974.

O corpo estará a partir das 17h, de 22 de Abril, no cemitério do Alto de S. João, em Lisboa, realizando-se a cremação, dia 23 de Abril, às 17h30, neste cemitério. »

quarta-feira, 21 de abril de 2010

.Bi Cicleta


Bi Cicleta ou Circunferência Alimonada?, InêsOink

.BiCicleta s.f. [sesta de Faunos]
Velocípede onde repousa duas circunferências alimonadas, firmes e lúcidas com as raízes iguais a um diâmetro oclusivo, sendo a da retaguarda para lá do ferro e da cabeça descaída, onde promove uma acção sindical contra o sistema de pedais acharruados, que por sua vez exercem pressão sobre a corrente detrás dos ciprestes.

BiCiclista s. 2 gén. [sesta dual de Gén Gibre]
ditaDore de grande nó cego à cintura que agoniza o velocípede onde repousa duas circunferências alimonadas, firmes e lúcidas com as raízes iguais a um diâmetro oclusivo, sendo a da retaguarda para lá do ferro e da cabeça descaída, onde promove uma acção sindical contra os sistemas de pedais acharruados, que por sua vez exercem pressão sobre a corrente detrás dos ciprestes.

Bi Cicleta o.d. [Odense design]
É o lume, do gume, da faca, da sesta de uma circunferência alimonada que grita a fúria, lança o abraço, ousa o impulso e ganha o choro.

terça-feira, 20 de abril de 2010

25 de Abril, 1 de Maio e Problemas actuais.















Dia 30 de Abril, sexta-feira, aparece no Centro de Trabalho do PCP na Póvoa de Santa Iria (pelas 21H) para debater e trocar ideias sobre o 25 de Abril, o 1 de Maio e os problemas actuais.
Vai, também, haver um momento musical.
Entrada Livre

sábado, 17 de abril de 2010

Happy Birthady

Para alguém que fez anos recentemente =)

Como vai isso por terras nórdicas ?

«happy birthday, you're not special.

you're getting older, but not much better.

we all want to embarrass you, that's why we're singing this song.

so happy fucking birthday.

you're not special.

you're not special

Contudo, e apesar da letra da música, que és especial ès.




Fica outro vídeo, que um colega meu estava a ver no outro dia no ISCTE, e eu lembrei me logo de ti:

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Há uma ligação entre a Estupidez e o Vaticano

Recentemente o Cardeal Tarcisio Bertone afirmou que
«Muitos psicólogos e muitos psiquiatras demonstraram que não há relação entre o celibato e a pedofilia, mas muitos outros demonstraram que há relação entre a homossexualidade e a pedofilia»

O mesmo Cardeal ainda afirmou que a pedofilia é
«uma doença que afecta todas as categorias de pessoas e proporcionalmente, em medida menor, os sacerdotes»

Por muitos absurdos que se possa dizer há um facto inegável que é necessário dar resposta e punir. É a ligação entre a pedofilia e a Igreja.

Por fim, as palavras deste Cardeal são mais uma prova, provada, que há uma forte ligação entre a Estupidez e o Vaticano.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Associação D. Martinho

Eleitos que foram, no passado dia 25 de Março, os novos corpos sociais da Associação D. Martinho, o tacadas no ar não podia deixar passar este marco em branco. Assim sendo, ficam aqui desde já expressos os nossos votos de bom trabalho numa associação que, em sendo bem dinamizada, tem muito a dar à cidade da Póvoa de Santa Iria.

.São Voltas e Voltas sem parar...


O Homer gosta do Tacadas no Ar, InêsOink

.Algum dia alguém disse que as andorinhas na primavera correm para o Sol, eu digo que nós corremos dentro da estação das flores, alergias e manhãs rosadas para um ano reunido neste quadradinho virtual Tacadas no Ar, nem fora, nem dentro, no ar!
Uma espécie de roteiro sobre uma cidade, onde vamos engordando os pombos de vento, deixando pedrinhas nos parapeitos.
Um ano passou, e continuamos só com correntes de ar, uma tacada aqui, outra acolá, e muita cabeça no ar.
À boa moda dinamarquesa, tak [obrigada] aos leitores!
Uma grande salva de palmas ['Clap! Clap! Clap!'] ao nosso JLC e ao seu imenso tempo livre, como testemunha o blog!
Tak JLC por aqueceres o blog com os teus postes!
[a imagem é dedicada a ti]
Para finalizar, ao contrário dos discursos de fim-de-qualquer-coisa-retomo-de-outra, não vamos prometer nada, mas sim apelar a que todos os colaboradores do blog sejam mais presentes, se não para o ano seremos todos banidos e o Tacadas no Ar será o blog oficial do JLC.

Um ventinho a todos da terra onde 9 graus é sinónimo de comer gelados na rua e calçar sandálias!
Por agora, só Correntes de Ar...

terça-feira, 6 de abril de 2010

Conhece a história da Póvoa de Santa Iria ?

Sabia que:

O Morgado da Póvoa foi formado ainda no século XIV, 1336?

Durante as invasões francesas o senhor do Morgado da Póvoa foi presidente da regência do Reino durante a fuga do Rei e da Corte para o Brasil. Acabou por ser “demitido” pelo General francês Junot.

Durante o século XIX foi construído na Póvoa a primeira fábrica de adubos químicos em Portugal?

Se o crescimento populacional da Póvoa mantivesse-se igual ao verificado em finais do século XIX (1864) a Póvoa teria em 2009 cerca de 4 271 habitantes...

Em 1886 é criado o Concelho de Loures que absorve a freguesia da Póvoa de Santa Iria..

Em 1910 a 14 de Agosto realiza-se um comício republicano no Grémio Dramático Povoense, no qual esteve presente o futuro Presidente da República, Bernardino Machado.

Em 1913 a «Água minero-medicinaldo Mouchão da Póvoa» ganha vários prémios internacionais.

Foi na Póvoa que ocorreu o primeiro voo de um avião comandado por portugueses em território nacional.

Em 1920 a população da Póvoa era de 1 102 habitantes, substancialmente inferior à população de 1878 (1 408 habitantes).

Em 1920 havia na Póvoa 735 analfabetos, contra 455 pessoas que saibam ler e escrever.


Estes factos, entre outros, fazem parte da história da Póvoa de Santa Iria e, inclusive, do país. Vamos então relembrar e trocar ideias sobre a nossa história local.

No próximo dia 09 de Abril no Centro de Trabalho do PCP da Póvoa de Santa Iria, vai realizar-se uma iniciativa sobre a história da nossa freguesia. APARECE E TRAZ AMIGOS


Entrada Livre.
21H

Publicada por JLC

quarta-feira, 31 de março de 2010

Algumas perspectivas dos deputados liberais sobre o operariado português. Uma Investigação em curso.

Mon amour, fica aqui uma pequena amostra do meu «muito tempo livre». Sem paint desta vez lol. Meter «lol» numa cena académica é bueda pouco académico. Que fique registado.

Em 1823 era debatido, na Câmara dos Senhores Deputados, o despedimento de 800 operários em Lisboa, a necessidade de controlar as despesas do reino assim imperava. Um deputado (Sr. Moura) solicitava então a palavra:

«oitocentos e tantos operários ficarião nas circunstancias de serem despedidos, e se o inspector destas obras fosse e dissesse: oitocentos homens amanhã ficão fora da minha folha, e não trabalhão em Lisboa: isto seria um abismo em que nos metteria-mos; seria oitocentos e tantos Portuguezes que amaldiçoarião a obra da nossa regeneração. Por tanto a reducção não se deve fazer n'um dia, mas em um anno»

Na mente deste deputado estaria com certeza a fraca estabilidade do novo regime e a preocupação de uma possível agitação popular em Lisboa. É um facto real, e sentido na altura, o defeituoso apoio popular que o liberalismo tinha. Este defeito conjugado com o medo de ocorrer em Portugal uma acção radical, como a que outrora marcou presença em França (1790-94), fazia com que a percepção do deputado fica-se alertada para o perigo, no imediato, do pretendido e autêntico despedimento colectivo. Era necessário salvaguardar o regime, e por consequência a alternativa apresentada foi o despedimento de todos os operários, mas, às prestações.

Qualquer facto que faça lembrar a realidade é, somente e puramente, integrante na lógica natural, histórica e actuante das ilusões do capitalismo. Ainda se lembram da Quimonda? eram só alguns trabalhadores que iam ser despedidos...

sexta-feira, 26 de março de 2010

.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Oliver North song

E, assim também se faz história.

Seja o que for, é justo.

Na última segunda-feira, e para assinalar os dois anos de mandato, Dimítris Christofias, declarou a redução do seu próprio salário e dos restantes ministros do governo. A redução será de 10% no ordenado. Ainda na mesma conferência o Presidente do Chipre, eleito em 2008 pelo AKEL (Partido Comunista do Chipre), incentivou os deputados e outros altos funcionários do país a seguirem este exemplo.

Com certeza, não é preciso ser nenhum sábio na ciência económica, esta redução salarial não é a resposta à crise, apesar de para a economia cipriota ser uma boa ajuda. Podem, ainda, muitos até a chamar de demagogia, seja como for, ela é um óptimo sinal para o interior da sociedade, bem como reveladora que nem toda a classe política é igual. Ao aconselhar a diminuição de salários na elite empresarial e o fim dos brutais prémios que os mesmos levam para casa, tenta-se combater e diminuir as contradições que há na sociedade. Como há dinheiro para prémios, se não há para aumentos salariais ?

É eticamente incorrecto e demonstrativo de falta de solidariedade, na minha visão, pedir mais esforços aos trabalhadores (que muitos ganham 2 euros por hora) numa época de crise na qual os altos cargos das empresas auferem de uma pipa de massa por dia, é, simplesmente e altamente contraditório.

A ilha do Chipre onde é sentido um clima tenso e bélico, pois, a sua parte norte ainda continua ocupada, militarmente, pela Turquia (desde 1974), dá um belo exemplo de ética e de postura. O seu governante corta no ordenado do seu executivo, e aponta o caminho ao resto dos altos quadros e executivos do país. Fica lançado o desafio...

É revelador de um estar na política.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Grécia

As medidas de austeridades na Grécia, (cortes nos salários, nas pensões, subsídios, aumento dos impostos), continua a avançar. Na Grécia, tal como resto da Europa, a ideia dos governantes é de forçar os trabalhadores a pagar a crise, e com isto, salvaguardar a classe capitalista. Face a estas propostas os deputados do KKE (Partido Comunista Grego) retiram-se do parlamento em protesto aquando da votação das mesmas.

Doravante, e ao contrário do que foi dito por um gestor de uma importante empresa portuguesa, as greves são para intensificar.

Com estas contradições e a luta de classes a tomar um caminho agudo, cantar R.E.M começa a fazer sentido…


«It's the end of the world as we know it and I feel fine»


E, se os capitalistas e seus aliados tomam propostas para defender a sua posição e salvaguardar os seus interesses, então, os trabalhadores, a classe operária e os explorados pretendem melhor a sua:

«The mass rally followed a protest march in the central streets of Athens to the Ministry of Laboor. The protesters made clear that they will not make any sacrifice for plutocracy and demanded:

- Stable employment for all
- 7-hour working day, 5-day
- 1400 euro minimum salary
- retirement at the age of 55 for women and 60 for men, at 50 and 55 for the hazardous occupations
- Measures for substantial protection of the unemployed and their families and not charity supermarket vouchers
- 1120 euro unemployment benefit for the whole period of unemployment without any conditions and prerequisites.
- Full health and pharmaceutical care
- Drastic taxation of the big enterprises by 45%. Abolition of all tax relieves and privileges.»

domingo, 21 de março de 2010

O Governo PS governa pelo seu programa»..diziam eles.

«É certo que a emergência em 2008 daquela que é a maior crise económica mundial desde a célebre Grande Depressão de 1929 afectou o desempenho económico de todos os países e, inevitavelmente, também da economia portuguesa, com efeitos particularmente preocupantes ao nível do desemprego
«O segundo [objectivo] é continuar a reforçar o sistema público de segurança social, de modo a garantir a protecção na velhice, invalidez, doença ou desemprego
«[…] avançar agora com o investimento público modernizador – realizado pelo Estado ou realizado por privados por indução do Estado - significa mais bem-estar e mais competitividade. Mas significa também, de forma directa, mais actividade económica e mais emprego. É por esta razão que todos os países europeus e os Estados Unidos da América fazem hoje do investimento público um instrumento central de resposta à conjuntura

Estes objectivos/propostas foram retirados daqui. Mas, garantindo os votos e a governação o programa foi metido na gaveta, quanto espaço livre terá essa gaveta ainda?, e o caminho que foi escolhido foi o de uma politica de austeridade inserida numa aliança com o grande capital contra os trabalhadores. Ao contrário do que foi prometido, e ao contrário das políticas promovidas em 1929 que foram vitais para ultrapassar a crise, uma política de protecção social conjugada com a intervenção directa e actuante do Estado na economia foi negligenciada. Nunca, depois de 1929 foi tão urgente uma política de esquerda.
Como é sabido, optou-se pelo aumento de impostos; não combater o desemprego mas sim tentar, no máximo, estabilizar o mesmo; e várias privatizações como é caso de alguns monopólios, sendo gritante no caso da rede eléctrica (REN).
Como podem ver, nesse programa que foi apresentado aos portugueses para 2009-2013 (bem como os discursos do tempo eleitoral) não se fala em privatizar nem em privatizações. Consequentemente, fomos enganados. Ao que parece, central é salvaguardar os interesses de classe do capital.

sábado, 20 de março de 2010

Biosfera, Abril 2008

Penso que vale a pena, ver (ou rever quem já viu) este documentário transmito na RTP2 em 2008.
Um documentário que alerta para os riscos da falta de planeamento do território. Este facto, conjugado, com a enorme pressão de urbanização é algo que o poder local não deve menosprezar
.




quarta-feira, 17 de março de 2010

Incrível, Portugal um país de privilégios para alguns…

450 Euros é o ordenado mínimo em Portugal,

A renda da casa, raramente, anda abaixo dos 300 Euros,

600 mil desempregados e, ao que parece, o actual PEC só prevê a criação de 25 mil novos empregos,

1 000 euros para as propinas,

gasolina está mais cara,

Em suma, a vida está mais cara,

A situação é negra, mas, também contraditória…
Soube-se, agora, que o Estado autorizou um prémio para a equipa de gestão da REN, ao que parece, José Penedos (um dos administradores que está suspenso por ordem do Tribunal devido a um possível envolvimento no caso Face Oculta) vai receber um bónus de cerca de 250 mil euros. Ao todo, os cincos gestores do Conselho da REN vão dividir entre si um prémio de cerca de 1 milhão e 250 mil euros. Bom, pode-se dizer que já é um apertar no cinto… pois em 2008 o prémio foi 3,5 milhões de Euros, mas não deixa de ser obsceno.

Na Portugal Telecom a situação é idêntica, os seus administradores vão receber 6 milhões de Euros em prémios.

Além destes chorudos prémios, fica aqui um pequeno apanhado do salário por dia, sim é quanto recebem por dia, alguns administradores em Portugal: Por exemplo Zeinal Bava ganha 6 905 euros por dia; Henrique Granadeiro fica com 4 575 euros por dia; Rui Pedro Soares 4 200 euros dia; e Jorge Coelho, o mais explorado desta lista, fica com 1 917 euros por dia.

Também é de salientar os lucros, escandalosos, da banca entre 2005 e 2009: 2 470 MILHOES DE EUROS. Para nem falar do lucro dos outros grupos económicos em Portugal…

Isto é uma parte importante da realidade e, consequentemente, eu percebo totalmente as pessoas que não aceitam sair do fundo de desemprego para ir trabalhar num emprego que ganham 2 euros por Hora. Haja respeito e moral. Ao contrário do que muitos afirmam por ai, não há mal nenhum criticar os chorudos ordenados praticados nas grandes empresas tanto públicas como privadas, em tempos de crise é vergonhoso exigir mais esforços à maioria dos portugueses enquanto que uma pequena minoria de indivíduos acumula riqueza…

Como é possível criticar, atacar e pedir esforços aos trabalhadores quando há prémios chorudos, quando há um punhado de indivíduos a receber fortunas por dia!!!!
Os trabalhadores criam riqueza, pois, como é sabido é do trabalho, e não da especulação financeira, que provém a riqueza de um país.

Mais uma vez, fomos enganados.

Este governo PS, vai aumentar os impostos;
Vai atacar o subsídio de desemprego e o rendimento social;
Não vai combater o desemprego;
Não vai tributar o grande capital nem as mais-valias da bolsa;
Não vai apostar em obras públicas;
Não vai dinamizar o aparelho produtivo nacional;
Ao contrário, vai privatizar várias empresas públicas dando, em alguns casos, o monopólio aos privados.

Tempos difíceis adivinham-se… a conjuntura histórica é propícia a rupturas e mau-estar dentro da sociedade. Cabe aos trabalhadores e explorados organizarem-se e lutarem por uma vida melhor.