sábado, 22 de maio de 2010

Eu não queria, mas, sabes, o mundo mudou…

Boa noite caros leitores. O autor deste blog tem o prazer de vos confidenciar que num momento em que devia reflectir acerca do sentido da existência, a fim de redigir um trabalho para a disciplina de filosofia, se viu na obrigatoriedade de vir revelar uma história que considerou assaz interessante.

Carlos Manuel, um pouco à semelhança de todos os portugueses, rejubilou ao ver a última entrevista feita a José Sócrates. Ele, Carlos, nunca pensou ser tão do seu agrado um momento televisivo dedicado à política, habituado que estava a desancar, com suprema autoridade, nessa "classe de parasitas", segundo declarações recolhidas no breve intervalo que sucede a sucção de um caracol e o tragar de um outro, na tribuna do Aires.

Qual o motivo de tão súbito agrado? Sabem, Carlos Manuel é um característico português que tende para este desígnio nacional da chico – esperteza, revertendo em seu favor mesmo a mais rebuscada das situações. Quando escutou o primeiro – ministro José Sócrates proclamar que " o mundo mudou em três semanas" e que, se tomava medidas de austeridade que pouco antes havia execrado, era porque a situação envolvente determina, em muito, o poder de decisão de um homem.

Precipitou-se no seu projecto… Há muito que fitava uma rapariguinha bem torneada a quem, de soslaio, deitava uns olhares penetrantes aos quais ela não se furtava, conhecedora do passado de Carlos Manuel como oficial da GNR, no tempo em que os perus amnésicos e o verde papel do esquecimento eram parte da carteira profissional. Nessa noite o acto foi consumado.

No dia seguinte, os ecos da adúltera relação já ressoavam no bairro inteiro – consta até que os Gato Fedorento foram despromovidos na sequência deste episódio, ficando a publicidade do Meo Fibra a cargo da Virgínia parteira, da Zulmira zarolha e da Quitéria dos desmanches. A esposa de Carlos Manuel soube do sucedido. Por conseguinte, foi de encontro a Carlos Manuel com o espírito enraivecido e olhos coléricos, clamando por explicações. Este, bonacheirão, esboça um sorriso mais rasgado do que o de um vendedor de enciclopédias, advogando que a culpa não era sua. Ela, do fundo da sua indignação, perguntou-lhe como fora ele capaz de a trair, quando dias antes lhe havia jurado amor eterno no aconchego do leito. Carlos Manuel, reerguendo-se na cadeira e com um rasgo de triunfo nos lábios, alega que o mundo tinha mudado. O ambiente de escuridão, em que fizera essa confissão, em nada se comparava com a ebulição do instante em que o remate do decote da rapariguinha gingou num movimento convidativo, transportando-o para uma outra noção de espaço e tempo. Em suma, a culpa não era sua, a envolvência caliente conduziu-o a adoptar uma conduta que jamais poderia equacionar na quietude da alcofa. A esposa, assim como a maioria do povo português, compadeceu-se com a justificação. Soltou uma lágrima, recriminando-se por ter odiado alguém que não podia antever o movimento das rodas da História. Em verdade, reconciliaram-se de imediato, regressando ao seu estimado leito e encetando uma caixa de preservativos com uma taxa de IVA de 21%.

Post Scriptum: A mulher de Carlos Manuel estava a passear pelo Algarve, quando senão encontra ocasionalmente Manuel Pinho. Este faz-lhe um gesto em que aproximou dois dedos hirtos à sua testa; ela, pensando tratar-se de um trejeito característico do golfe, ignorou e prosseguiu despreocupada.

 

3 comentários:

filipe disse...

Atrasou-se um trabalho de filosofia...mas ganhou-se um saboroso conto sobre o cotidiano.
É mesmo assim, a filosofia tem que ceder o passo à vida. E a propósito de vida, vamos ao trabalho interrompido e à luta, que não pode parar!
Abraço

.InêsOink disse...

.Após ler a minuciosa interpretação de Carlos Manuel, em relação à declaração feita por José Sócrates, dou por mim a pensar ('no breve intervalo que sucede a sucção de um caracol e o tragar de um outro'), como é possível existir pessoas que afirmem que o estado é uma farsa e não quer saber dos sonhos e aspirações dos cidadãos?!

Beijo! Beijo! Beijo!

JL disse...

LOOL muito bom, sim senhora. eheh fico contente por haver actividade nos útlimos dias no blog, além do chato do eu!.

bj bj