domingo, 20 de março de 2011

Cá vai outra.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Geração à Rasca

Este sábado, vaticino que o país vai parar, isto sem que o protesto da Geração a Rasca tenha sido de arromba. A comunicação social, com certeza, dará um grande protagonismo ao protesto no sentido de verificar a sua adesão, mas, particularmente, de tentar lançar na "janela mágica" imagens de confusão e desordem, quiça, talvez de blindados do exército...
Seja como for, acho o protesto bastante legítimo, no entanto não posso deixar de ter fortes reservas. Antes de tudo não sei se irei participar nele, - se o for irei como curioso, e não só com o espírito de protesto, pois esse espírito está cá há vários anos e não o encontrei quando meti um "like" ou um "vou participar".
Na minha óptica pretende-se com este protesto exportar o modelo que desencadeou as revoluções no norte de África, numa realidade totalmente distinta da magrebina, como é a portuguesa.

Neste ponto é importante desmistificar as redes sociais. As revoltas que tem ocorridos no norte de África, que agora alastram-se um pouco por todo mundo árabe, foram antes de tudo desencadeadas pela realidade social: forte desemprego numa sociedade fortemente jovem; más condições de vida; a alta corrupção; a exploração; tirania; repressão etc. Em alguns casos até pelo facto de uma ampla maioria xiita ser governada com mão-de-ferro por uma minoria sunita. Estes, de grosso modo, foram os pressupostos vitais para a maré de revolta, no entanto, claro está, que o rastilho foi as redes sociais, pois por algum motivo é que os governos desses países rapidamente decidem proibir o acesso a internet. O caso do Egipto e da Tunísia são gritante, no entanto, apesar da imagem que a comunicação social ocidental construiu de protestes assente nas redes sociais, é importante dizer que no caso da Tunísia, onde tudo começou, o movimento sindical foi, deveras, importante. É ingénuo pensar que os agentes da autoridade aderiram aos protestes com um invento criado no facebook, bem como o próprio exército. As redes sociais foram importantes, todavia, os protestos e estas revoluções não são nada espontâneas, mas sim criadas por um ambiente social concreto, onde o espírito de indignação do ser humano soltou-se. Em suma, as redes sociais foram uma, das muitas ferramentas, para a libertação.

No caso português a comunicação social, pelo menos a que tenho visto, dá grande apoio e visibilidade ao protesto, Geração à Rasca, convocado por facebook, acabando desse modo por alguma espontaneidade. Contudo, quero aqui salientar que a mesma comunicação social não para de dizer que a adesão ao protesto cresce a bom ritmo, estando confirmado mais de 40 mil pessoas. No entanto, causa estranheza o facto da mesma não focar que já mais de 70 mil pessoas disseram que não iam estar presentes na manifestação, cerca de 30 mil meteram um "talvez", e que a dois dias do protesto ainda estão por responder cerca de 400 mil pessoas. Portanto, equancionando o potência da internet e das redes sociais que nos tem vendido nos últimos dias com as confirmações para o protesto, não podemos deixar de concluir que o protesto, porventura, não terá os resultados desejados. Outra crítica à comunicação social é o facto de há anos que se realiza manifestações sindicais e de certos partidos, nomeadamente o PCP, com mais de 60 mil pessoas e umas até com 200 mil pessoas, e o protagonismo que levam na comunicação social é frouxo.
O próximo protesto 19 de Março da CGTP conta, actualmente, com a confirmação de 1 200 pessoas, mas será um protesto com uma maior mobilização do que este protesto de sábado. A importância das redes sociais em protestos é bastante discutível, é o que pretendo dizer no fundo.

Mesmo tendo estas reservas teóricas sobre a importância das redes sociais, concordo com os motivos do protesto, como carrego um estigma de comunista terei aqui deixar umas notas.
Acho que o meio sindical e o PCP olha para este protesto com grandes reservas, pois tal foge ao seu controlo, e é dinamizado por muitos militantes do Bloco de Esquerda, aliás, o BE já confirmou presença no protesto. No entanto, apesar das reservas o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, recentemente afirmou que o partido vai estar na manifestação, tendo sido inclusive convidado a participar. O PCP não mobiliza, mas participa. Mas mais importante ainda, parece-me que o pano do apartidarismo cai, pois nada nesta vida,iminentemente política, é apartidária.
Seja como for, há uma grande problema, teórico, em impulsionar a luta dos desempregados dentro do movimento sindical. É notório as contradições existentes entre os próprios trabalhadores, os que ainda trabalham e os que ficaram sem emprego. Na verdade a chamada luta ainda não está pronta para absorver esses dois sectores, ao passo que vai havendo condições para criar novas frentes de combate onde actuem às duas. A primeira dinamizada, essencialmente por comunistas e sindicalistas no sentido de manter a rua, a segunda dinamizada por bloquistas com intuito de crescer na rua. Seria bom que este protesto lançasse sementes para um futuro, e sério, entendimento.

Ao contrário do que se escreve esta semana no Avante!, «ingénuo é todo aquele que escrevendo um texto no seu blog, ou no seu mural do facebook, acredita ter enviado uma mensagem a milhões», na verdade a internet permite, efectivamente, lançar mensagem a milhões, o que deve ser questionável não é a a recepção da mensagem mas sim como essa é, se o for, digerida pelo receptor.

11 de Março de 1975

A manhã do 11 de Março de 1975 entra para história com as imagens da RTP a captar o diálogo entre Dinis de Almeida com os oficiais dos pará-quedistas de Tancos. O primeiro estava cercado pelos segundos, depois do seu Regimento (RAL 1) ter sofrido um raide aéreo oriundo da Base Aérea n.º3. Entretanto António Spínola lança charme a vários oficiais do exército para aderirem ao golpe (entre eles Salgueiro Maia, que recusa), em resposta a Intersindical apela a mobilização dos trabalhadores a agir. O golpe estava na rua.
Depois de almoço António Spínola e uma dezena de oficiais seus aliados entram num helicóptero rumo a base aérea espanhola. Era a fuga possível, perante a derrota auto-forçada.

A tentativa de golpe, propiciada por Spínola e spinolistas, é, acima de tudo, a grande tentativa de travar o rumo das coisas, de alterar a correlação de forças que estava, drasticamente, a tombar para a esquerda militar e política. Ironicamente, o resultado é totalmente contrário ao pretendido. No 11 de Março há uma irremediável imprudência da aula spinolista, que não consegue interpretar bem os sinais da altura.

Num contexto profundamente agitado e de um desmedido clima revolucionário, a aula militar spinolista consegue aprovar, na EPC, uma moção de desconfiança à Coordenadora do MFA, posta de imediata a circular entre outras unidades do país. De imediato o número de adesões à moção é considerável. No entanto, o êxtase ocorre com a publicação da famosa «matança da Páscoa». Aparentemente 500 oficiais e mil civis afectos ao General Spínola estavam para serem mortos pelo PCP e outros sectores marxistas. Perante esta informação, que terá sido divulgada pelos serviços secretos franquistas, o general Spínola farto do fracasso das tentativas legais, (golpe Palma Carlos; 28 de Setembro), de circunscrever os seus inimigos, tenta tomar o poder através de um golpe.

Portanto, se de manhã há nevoeiro, depois do almoço há já uma certa tranquilidade, acabando o dia com uma agitada reunião do MFA, onde é pedido, inclusive, fuzilamentos. Contudo, é de reter que desta reunião, dialecticamente ligada aos acontecimentos matinais desse dia, emerge:
  • Conselho da Revolução;
  • é imposto um amplo programa de nacionalizações;
  • reforma agrária no sul do país;
  • institucionalização do MFA;
  • Intersindical é confirmada como central única;
  • PCP-ML, AOC e MRPP são proibidos;
  • é criado um tribunal revolucionário para julgar os implicados no 11 de Março;
  • o Conselhos de Armas (dominado por oficiais spinolistas), o Conselho de Estado e a Junta de Salvação Nacional são extintas.

O 11 de Março de 1975, é a prova já bastante provada na altura, que o General Spínola podia ser um excelente militar, no entanto, tinha uma fraca/nula visão política e, sobretudo, de análise do momento.
É um acontecimento que não deve ser encarado como uma singularidade, mas sim como um traço comum da revolução dos Cravos
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