sábado, 16 de maio de 2009

Mais um exemplo, agora na Ásia.

Estão a ser apurados os resultados eleitorais na Índia, que segundo alguns especialistas é a maior e mais complexa democracia do mundo. Tudo parece apontar para que os partidos do Poder não consigam formar governo sem coligações ou acordo com outros partidos, longe vão os tempos em que o Partido do Congresso (onde militam os membros da família Ganhdi) garantia mais de 200/300 lugares das 543 possíveis no Parlamento.

Por outro lado, existe uma hipótese da Frente de Esquerda poder participar num Governo de visão progressista. Relembre-se que a Frente de Esquerda, apesar de não participar no Governo, deu apoio e sustentabilidade no Parlamento, até à pouco tempo, ao Governo actual.

Com cerca de 900 mil militantes, e 43 deputados eleitos o PCI-M (Marxista) é a terceira força política na Índia e a força política mais importante na Frente de Esquerda. Conta ainda com mais de 200 deputados regionais eleitos, cinco jornais diários e um canal de televisão próprio. É Poder em três estados, Kerala onde no qual em 1958 foi eleito o primeiro governador comunista na Índia, Tripura e Bengala Ocidental.

Bengala é um estado populoso e importante, com cerca de 80 milhões de habitantes, e desde de 1977 que o PCI-M vence todas as eleições, em cerca de 79 cidades é Poder em mais de 40 cidades. O ano de 1977 marca o início do fim do poder dos grandes latifundiários, que tinham mais de 50% da posse da terra, hoje em dia cerca de 70% dos camponeses tem direito a terra própria e muitas pessoas passaram a ter direito a uma casa. Actualmente os dados indicam que cerca de 26% da população de Bengala está abaixo da linha de pobreza, antes de 1977 os dados indicavam que eram cerca de 56% da população. Ironicamente, este número (26%) é explicado em grande parte devido aos benefícios oferecidos pelo governo de Bengala como a saúde, educação e o controle dos preços alimentos, que tornam Bengala numa região de destino para muitos pobres indianos que chegam a Bengala com esperança de uma vida melhor.

Um analista político indiano afirma que sucesso dos comunistas e da Frente de Esquerda em Bengala Ocidental essencialmente a três factores:
1.Elaboração de uma reforma agrária, que favoreceu os camponeses pobres.
2.
Apesar do PCI-M ter uma maioria parlamentar forte para governar sozinho, o partido faz questão de participar numa Frente de Esquerda com outras forças de esquerda ou progressista e independentes.
3.Finalmente é um governo sem corrupção, nos 30 anos que governa Bengala não existe registo de um único escândalo no governo.

Além do PCI-M a Frente de Esquerda é composta pelo PCI da Índia que tem 10 deputados e pelos Partidos Revolucionário Socialista e Adiante de Toda a Índia, ambos com três deputados, ou seja, a Frente de Esquerda tem no total 59 deputados no Parlamento. No decorrer das eleições o Partido Bahujan Samaj que tem 19 deputados e governa o estado mais populoso da Índia, Uttar Pradesh, e que se afirma como representante do estrato social mais baixo do sistema de castas, manifestou intenção de ingressar na Frente de Esquerda.

Numa sociedade profundamente marcada pela hierarquização do sistema de castas, várias religiões, problemas bélicos com um vizinho, contradições agudas e incertas no tecido social e as emergências de alguns nacionalismos locais, tudo parece apontar que a Frente de Esquerda será essencial para o futuro e rumo desta populosa nação.


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