quinta-feira, 9 de abril de 2009

Tensão na Moldávia.

Cerca de 10 mil pessoas desencadearam uma onda de violência nas ruas da capital da Moldávia, Chisinau, em protesto pela vitória do Partido Comunista da República da Moldávia (PCRM) nas eleições legislativas que decorreram no passado dia 05 de Abril, acusando o mesmo de estar por detrás de uma fraude eleitoral. Os protestantes chegaram mesmo a invadir e a pilar o Parlamento. Estes protestos contam com o apoio dos partidos de direita, que a acreditar no resulta eleitoral não terá conseguido chegar aos 15% dos votos, e já exigiu a demissão do governo. Ainda é muito cedo para ver como vai terminar esta história, mas é importante relembrar alguns factos:

1. A Moldávia é uma região do leste Europeu, que fica situada entre a Ucrânia e a Roménia, e tem uma população estimada em 4 milhões, vivendo na capital mais de 400 mil pessoas.
2. Fez parte da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) até 1991 quando declarou a sua independência.
3. É um dos países mais pobres da Europa, e existe um grande descontentamento por parte da população relativo as condições de vida, mas este descontentamento não nasceu só em 2005, mas advém de trás.
4. Etnicamente a Moldávia é uma região com alguma diversidade, sendo constituída na sua maioria por Russos, Ucranianos e principalmente por Moldávios, mas é nesta enorme massa populacional chamada de Moldávios que reside o problema, pois muitos deles consideram-se Romenos e não Moldávios. Este entrave nacionalista acarretou logo desde do nascimento da Moldávia em Estado-Nação ao surgimento de vozes que exigiam a integração da Moldávia na Roménia, mas que não tiveram sucesso em grande parte devido a intervenção da Rússia. A própria língua moldávia é muito semelhante ao Romeno, e é considerado por muitos como um dialecto do romeno. Nestes protestos de 2009 continuam-se a ouvir vozes que defendem as propostas de integração da Moldávia na Roménia.
5. Por outro lado a Moldávia é mais um exemplo histórico do separatismo que se aviva naquela região do globo depois da queda da URSS, pois a Moldávia tem vivido ao longo da sua história pós-URSS duas situações separatistas, uma menos grave na região de Gagaúzia e que parece estar mais ou menos já controlada pelo Poder central da Moldávia, mas por outro lado tem a região da Transnístria que esta politicamente afastada da Moldávia tendo inclusive um parlamento próprio.
6. Nas eleições de 2005 o PCRM ganhou pela primeira vez com cerca de 45% dos votos, elegendo 55 deputados de 101 possíveis, e ainda na mesma atura devido a alianças com outros pequenos partidos no Parlamento conseguiu-se a eleição de Vladimir Voronin (Secretário-geral do PCRM) para a Presidência da República da Moldávia, pois neste país a sua Constituição prevê a eleição do Presidente da República através dos votos dos deputados no Parlamento. Em 2008 o Parlamento Moldavo aceitou a demissão do chefe do governo comunista Vasile Tarlev, e de seguida votou na nomeação de um novo governo chefiado pela comunista Zinaida Greceanii que inclusive esteve em visita oficial ao nosso país no dia 11 de Fevereiro de 2009. (Em jeito de curiosidade, e penso não estar errado, Zinaida é a segunda mulher á cabeça de um governo comunista, se não estiver em erro pela segunda vez, a primeira foi uma Jugoslava). O PCRM actualmente defende a integrarão da Moldávia na União Europeia.

É evidente que existe ainda um grave problema na «questão nacional» em muitas regiões do leste europeu, que foi iniciado com o fim da URSS em 1991, mas que ganhou velocidade com a intervenção dos EUA e da Nato nos Balcãs que desbocou no fim da Jugoslávia. Sem dúvida que estamos, directamente ou indirectamente, perante mais uma sequela do desmembramento da URSS, que pode ser agravada ainda mais pelo “incomodo” de estar no Poder um Partido Comunista. A confirmar-se (outra vez) a eleição do PCRM pela segunda vez para o governo é algo com simbolismo tremendo, pois marca a consolidação de uma força comunista numa região que outra hora fez parte da pátria do socialismo, e demonstra que os comunistas continuam a ser uma força política a levar a serio naquela região, e é mais um ataque feroz na teoria do «Fim da História» e da vitória do capitalismo lançada por volta de 1991, por fim é mais um exemplo de como os PC´s conseguem triunfar eleitoralmente. Mas também demonstra uma ligação profunda que existe entre um Partido Comunista e as massas, pois efectivamente os Partidos Comunistas continuam a ser partidos de massas e continuam a ter influência em regiões que fizeram parte da URSS, era de esperar, segundo as teorias dos neoliberais e dos laivos do capital, que nestas regiões nunca mais voltaria-se a ouvir falar de comunismo ou socialismo devido aos anos de “trevas” que existiram ali de 1917 até 1991, mas a verdade é que continua-se a ouvir tal vocabulário.

Por fim, se preferirmos duvidar das palavras dos comunistas moldávos, podemos escutar o que a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OCDE) tem a dizer sobre estas eleições, pois bem tanto a OCDE como um grupo de deputados do Parlamento Europeu avaliou a vitória dos comunistas nas urnas como sendo «na generalidade, de acordo com as normas e os princípios internacionais», bem como «bem organizadas e decorreram num clima calmo, pacífico e pluralista». Com certeza que tais vozes serias não se atreveriam a enganar em assuntos tão sérios como é a democracia, os acontecimentos decorrentes do resultado eleitoral na Moldávia confirma então: o mau perder que a direita tem, bem como o lançamento de imediato de campanhas violentas e provocatórias contra ascensão de uma força esquerda. Veremos o que os próximos dias dirão, e espera-se a confirmação ou não se tais movimentações que decorrem na capital da Moldávia não fazem parte de um plano que tem como objectivo derrubar, ou pressionar o derrube do governo do PCRM, e como a Comunidade Internacional reage perante as forças que estão por detrás de tais movimentações, interessante é também ver o comportamento das potências locais, como a Rússia e a Roménia, inclusive o embaixador do último país já não está na Moldávia.

A Moldávia juntamente com o Chipre são dois países europeus dirigidos por partidos comunista, se nos lembramos da força que muitos PC´s possuem ainda em vários países da Europa, parece que o espectro do comunismo começa a voltar a assombrar a Europa, eu diria que nunca deixou, mas isso já é outra história.

3 comentários:

alipio casemiro disse...

Conquanto o nome sugira a abordagem de assuntos levianos ou,pelo menos, temas mais triviais do que o do artigo que me acho a referenciar, é indubitavelmente -no cômputo geral dos textos redigidos- um blog de nomeada no seio desta obsoleta e anacrónica blogosfera portuguesa onde a actualidade é continuamente desmerecida.Congratulações de um modesto percorredor de blogs que ajuizou em boa hora saudar o vosso trabalho.

JL disse...

Merci

.InêsOink disse...

. Tá fixe tá fixe..., mas perdi-me a meio!
Tem a mania que sabem é o que é...
Hihihiihi!...

Beijinhos!
Nós dominamos a Blogsfera ponto!