quinta-feira, 10 de março de 2011

11 de Março de 1975

A manhã do 11 de Março de 1975 entra para história com as imagens da RTP a captar o diálogo entre Dinis de Almeida com os oficiais dos pará-quedistas de Tancos. O primeiro estava cercado pelos segundos, depois do seu Regimento (RAL 1) ter sofrido um raide aéreo oriundo da Base Aérea n.º3. Entretanto António Spínola lança charme a vários oficiais do exército para aderirem ao golpe (entre eles Salgueiro Maia, que recusa), em resposta a Intersindical apela a mobilização dos trabalhadores a agir. O golpe estava na rua.
Depois de almoço António Spínola e uma dezena de oficiais seus aliados entram num helicóptero rumo a base aérea espanhola. Era a fuga possível, perante a derrota auto-forçada.

A tentativa de golpe, propiciada por Spínola e spinolistas, é, acima de tudo, a grande tentativa de travar o rumo das coisas, de alterar a correlação de forças que estava, drasticamente, a tombar para a esquerda militar e política. Ironicamente, o resultado é totalmente contrário ao pretendido. No 11 de Março há uma irremediável imprudência da aula spinolista, que não consegue interpretar bem os sinais da altura.

Num contexto profundamente agitado e de um desmedido clima revolucionário, a aula militar spinolista consegue aprovar, na EPC, uma moção de desconfiança à Coordenadora do MFA, posta de imediata a circular entre outras unidades do país. De imediato o número de adesões à moção é considerável. No entanto, o êxtase ocorre com a publicação da famosa «matança da Páscoa». Aparentemente 500 oficiais e mil civis afectos ao General Spínola estavam para serem mortos pelo PCP e outros sectores marxistas. Perante esta informação, que terá sido divulgada pelos serviços secretos franquistas, o general Spínola farto do fracasso das tentativas legais, (golpe Palma Carlos; 28 de Setembro), de circunscrever os seus inimigos, tenta tomar o poder através de um golpe.

Portanto, se de manhã há nevoeiro, depois do almoço há já uma certa tranquilidade, acabando o dia com uma agitada reunião do MFA, onde é pedido, inclusive, fuzilamentos. Contudo, é de reter que desta reunião, dialecticamente ligada aos acontecimentos matinais desse dia, emerge:
  • Conselho da Revolução;
  • é imposto um amplo programa de nacionalizações;
  • reforma agrária no sul do país;
  • institucionalização do MFA;
  • Intersindical é confirmada como central única;
  • PCP-ML, AOC e MRPP são proibidos;
  • é criado um tribunal revolucionário para julgar os implicados no 11 de Março;
  • o Conselhos de Armas (dominado por oficiais spinolistas), o Conselho de Estado e a Junta de Salvação Nacional são extintas.

O 11 de Março de 1975, é a prova já bastante provada na altura, que o General Spínola podia ser um excelente militar, no entanto, tinha uma fraca/nula visão política e, sobretudo, de análise do momento.
É um acontecimento que não deve ser encarado como uma singularidade, mas sim como um traço comum da revolução dos Cravos
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