Há pouco, li um artigo que mudou a minha vida, em parte porque durante os 30 minutos em que redijo este texto, podia estar a fruir da minha juventude, no clube de chinquilho da minha freguesia. No artigo podia-se ler que “segundo um estudo norte-americano, o músculo mais forte do corpo humano é a língua”; e, por difícil que seja de acreditar, assim que li estas linhas, dei por mim a iniciar-me na nobre arte da formulação de teorias de conspiração. Em oposição à opinião generalizada da população, este não é um passatempo de todo inusitado, visto que, um pouco por todo o mundo, são organizados congressos de crentes nas mais burlescas teorias, desde a de sermos governados por uma raça de lagartos transfigurados, até à de sermos descendentes de organismos intergaláticos. Porém, como me tomo por uma pessoa modesta e despretensiosa, decidi encetar a minha lide de conspirador com um devaneio mais simples, algo que possa conter, embora em doses vestigiais, o mínimo de plausibilidade, um conceito nada caro aos teórico-conspiradores mais ortodoxos. Corajosamente, desvendar-vos-ei a verdade por detrás de um dos escândalos sexuais mais célebres da História: o de Bill Clinton com Monica Lewinsky. Este caso teve enormes repercussões a nível político e social, mas também, e sobretudo, a nível semântico, sendo redefinidas as fronteiras de pecado original, ao excluir-se o sexo oral do conceito de relacionamento sexual, e da palavra Lewinsky, até então um mero nome próprio, e que com este escândalo logrou assinalar o seu nome nos anais da sinonímia, especialmente aquela que envolve flectir os membros inferiores. Preciosismos de análise aparte, centremo-nos na narrativa dos acontecimentos, de inegável fidedignidade histórica, que vos vou reportar. O caso passou-se assim: Certo dia, pouco tempo antes da chegada do Presidente, Mónica Lewinsky navegava pela internet. Trabalhadora empenhada e incansável, esforçava-se sempre por evidenciar aos seus superiores o quanto era uma mulher sofisticada e ávida de novos conhecimentos. Com esse objectivo, lançava-se em longas horas de pesquisa cibernáutica, em busca de algo relevante, ou simplesmente curioso, que pudesse comentar com dissimulada espontaneidade, quando uma chefia se encontrava perto dela. Não nos esqueçamos que, na época, a internet não era uma figura omnipresente na nossa vida quotidiana e, consequentemente, quem citava os mais recentes e extravagantes estudos científicos passava por um fiel leitor de publicações da especialidade. Nessa esperança, no momento em que o Presidente passa junto dela, Monica comenta jovialmente: − Senhor Presidente, sabia que a língua é o músculo mais forte do corpo humano?
− Desculpe, Monica, não percebi o que disse – declara Clinton, espantado com a interpelação.
− Perguntei-lhe se o senhor Presidente sabia que a língua é o músculo mais forte do corpo humano – confirma a secretária.
Clinton faz um compasso de espera e questiona-a trocista e desafiadoramente:
− Tem a certeza, Mónica? Asseguro-lhe que o meu corpo possui um órgão mais forte do que a minha língua.
− Não creio, senhor Presidente. A fazer fé neste estudo, o que afirma é impossível.
− Esse deve ser um daqueles estudos europeus sem qualquer fundamento. Mas se insiste, tenho de a convidar a seguir-me até à sala oval, para pôr fim a este impasse no conhecimento científico – sugeriu Clinton, com maliciosa solenidade.
De resto, não haverá nada de novo que vos possa contar. Resumidamente, Clinton foi flagrado numa disputa anatómica com a sua secretária, uma espécie de braço de ferro sem braços, onde Monica porfiava por fazer ver ao Presidente que a sua língua era mais forte do que o outro membro a concurso. Depois vieram os tablóides, os vexames, os pedidos de desculpa públicos e uma mancha inapagável na carreira política de Bill Clinton. Só hoje, na posse destas novas informações, podemos compreender o quão precipitados e errados foram os nossos juízos. Um acto que atribuímos à libido insaciável do Presidente e à infame permissividade moral da sua secretária não passou, na verdade, de uma tentativa conjunta de desfazerem um equívoco científico, dando um inestimável contributo para a humanidade… Que ingratos que fomos!
P.S. Os leitores mais atentos devem já ter reparado que alguns dos acontecimentos narrados não condizem com a veracidade dos factos verdadeiramente ocorridos. Por exemplo, não há memória de que os envolvidos alguma vez tenham sido apanhados em flagrante. Ainda assim, rogo-vos que me perdoem, em primeiro lugar, porque se trata de uma teoria da conspiração e, por definição, a história deve gozar de uma verosimilhança apenas aparente; em segundo lugar, porque, ao escrever um texto deste teor, arrisco-me a descredibilizar outras publicações ditas mais sérias, que venho escrevendo… Mas, enfim, também destas ideias tresloucadas, escritas pela madrugada dentro, se faz o mundo.
A todos uma óptima noite, vou descansar.
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