segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Revistas cor-de-rosa, Cristiano Ronaldo e IKEA

Caros leitores, tenho-vos a confessar que um horrível costume que me persegue e atormenta: uma inveterada fé nas colunas sociais, que pontuam como constelações as papelarias da nossa praça. Há nessas revistas algo que me inspira uma crença desmedida… Talvez as mui veneráveis senhoras que se apresentam perplexas com o paparazzi, que em monetário conluio com as mesmas, se apresta por entre um arbusto frondoso, elemento aliás impreterível no cenário cor-de-rosa; talvez as mui veneráveis famílias cujo melódico nome rivalizaria, em extensão, com o mais completo dos catecismos bíblicos. Em extensão, acentue-se, porque a Jesus, Judas ou Abel ainda lhes reconheço o mérito de serem internacionalmente reverenciados ou censurados, ao passo que a estas famílias ninguém conhece, excepção feita às pulgas, que sorvem o sangue aos cavalos da sua herdade, estábulo de tão ínclita linhagem; talvez os míseros seres que prostituem a sua biografia, tão chocante e promíscua como lucrativa, que alimenta uma verborreia proferida e redigida com uma solenidade de quem analisa as fortunas e dissabores de uma figura histórica; talvez…

Basta! Tenho que pôr termo a este meu insanável atributo de esgrimir tantos elogios de uma só vez. Com tanto mel vertido da minha boca, um dia mordo a língua e sou tomado por uma crise de diabetes. E, em verdade, o assunto que me leva a escrever é Cristiano Ronaldo. Por favor, absolvam-me das vossas críticas… Eu sei, eu sei, pareço o tio Paulinho, que, quando a matéria política escasseia, fala dos "indigentes" e sempre "preguiçosos" recebedores do rendimento mínimo, obtendo de imediato uma ascensão exponencial nas sondagens. Mas, convenha-se, Cristiano Ronaldo é o bastião da actualidade – mais do que o normal, entenda-se.

Cristiano Ronaldo teve um filho!!! Uau!!!! – tenho que me socorrer mais vezes de interjeições, tem piada. E então? Salvo o facto de suavizar as consternações de Cavaco Silva quanto à taxa de natalidade, em nada se demarca da realidade de outros tantos milhões de portugueses. Mas quando o visado é Ronaldo, até o mais singelo dos temas se intrinca.

O Primeiro tema sobre o qual a imprensa cor-de-rosa se debruçou foi o modus operandi da concepção, alcançando-se a unânime resolução da reprodução medicamente assistida. Há muito que estas "provetices" não despeitam ninguém e, atendendo à já manifestada via celibatária de Cristiano Ronaldo, em nada esta revelação melindrou a minha inabalável fé na imprensa cor-de-rosa. Com o segundo tema foi diferente… Neste, a mesma imprensa aventa um alucinante número de possíveis mães. Será moda porventura? É plausível. Hoje nada se executa sem a aprovação prévia de uma equipa multidisciplinar. Porém será uma razão suficiente? Eu cuidei que não. Invoquei então o engenho dos velhos sábios das C.C.F.E.J. (Crenças Claramente Falsas Estupidamente Justificadas), organização composta por todos aqueles que asseguram a existência de uma sociedade secreta, controladora do mundo, presidida por personalidades, tais como Kennedy, Elvis ou Marilyn Monroe. De imediato considerei que a minha crença na imprensa cor-de-rosa se revia nesta frente, preteri as evidências científicas, e formulei a minha teoria. Efectivamente, pensei, nada havia de falso na vasta colecção maternal do venturoso rebento, pelo contrário, tudo resultava de uma campanha publicitária do IKEA, protagonizada por CR7. O filho do craque foi desmultiplicado por vários ventres, parido em fragmentos, unidos em casa pela mão de Cristiano Ronaldo. Já antevejo os contornos do próximo segmento da campanha publicitária: Cristiano Ronaldo, em casa, sorriso rasgado, unindo a cabeça ao tronco do bebé, e dizendo (dezendo, segundo Ronaldo): " IKEA, construa você mesmo".

Mistério desvendado, fé renovada. Vou-me deitar, é tarde.

Post-scriptum: No fim da frase, Ronaldo cuspiu. Este contestou, não lhe apetecia, mas foi uma exigência da marca. Pretendiam que Ronaldo deixasse o seu cunho pessoal, para dissipar especulações de que seria um sósia. Afinal, há quem o supere a jogar futebol, mas ninguém cospe como Ronaldo.


 


 


 


 


 

1 comentário:

Op! disse...

Bom post, precisava de me rir um pouco. só uma correcção escreve-se «modus operandi» não «modus operandis».