segunda-feira, 6 de julho de 2009

O Socialismo não morreu de causas naturais: foi um suicídio!

«Os esquerdistas chamaram à NEP uma capitulação ao capitalismo que iria condenar o projecto soviético ao fracasso. No outro lado do espectro, Tróstski, Zinóviev, Bukhárine e outros pensaram que a NEP era demasiada branda e defenderam concessões ainda de maior alcance ao capitalismo. [...] Lénine concordou que a NEP representava um perigo [...] ainda assim, Lénine pensou que o Partido podia gerir o perigo limitando o recuo e assegurando o seu carácter temporário. A posição de Lénine prevaleceu. [...] Quando Lénine morreu, em 1924 [...] três soluções foram apresentadas: a de Lev Trótski, a de Nikolai Bukhárine e a de Iossif Stálin. [...] . Trótski sublinava a necessidade da revolução internacional como a única esperança que a Rússia tinha de escapar ao que ele considerava ser a degeneração burocrática e a perda de fervor revolucionário. Trótski e a oposição de esquerda foram definitivamente derrotdos no XIV Congresso do Partido, em 1925, que adotpou a via da industrialização acelerada e da auto-suficiência. [...] as posições de Bukhárine assemelhavam-se fortemente às perspectivas gradualistas da social-democracia ocidental. Ele amenizou a ideia de luta de classe até chegar à ideia de uma competição pacífica entre grupos de interesse rivais, entre a indústria estatal e a indústria privada, entre as quintas cooperatvas e as quintas privadas, na qual o primeiro elemento revelaria gradualmente a sua superioridade. [...] Bukhárine e a oposição de direita foram rejeitados pelo XV Congresso do Partido, em 1927, que adoptou uma política de promoção da colectivização da agricultura. [...] O génio político de Stáline [...] derrotou primeiro Trótski e depois Bukhárine.
[...]
Jdánov e Malenkov emergiram como os dois principais adjuntos de Stálin. Jdánov entendia [dar] prioridade à produção e ao saber técnico [...] o Partido devia dar prioridade à ideologia [...] devia enfatizar a elevação dos níveis de vida e o aumento dos bens de consumo. Em 1946 e 1947, Jdánov e os seus aliados lançaram uma camapnha contra as debilidades ideológicas na literatura e cultura e uma campanha contra a agricultura privada. Um dos alvos de Jdánov era Nikita Kruchtchov, líder do Partido na Ucrânia. [...] Malenkov acreditava que os perigos internancionais continuavam a ser reais e que as propriedades do partido tinham de continuar a ser o desenvolvimento da indústria básica e da força militar. A crença de Malenkov na prioridade do desenvolvimento industrial colocava-o solidamente ao lado de Stálin e contra Bukhárine.
[Após morte de Stálin e já no tempo de Kruchtchov]
Kruchtchov representava uma abordagem da construção do socialismo que se assemelhava amiúde a Bukhárine e Jdánov e prefigurava Gorbatchov. [...] Kruchtchov favorecia a incorporação no socialismo de um leque de ideias capitalistas ou ocidentais, incluindo mecanismos de mercado, descentralização, alguma produção privada, um intenso recurso aos fertilizantes e ao cultivo de milho, investimento crescente em bens de consumo. [...] Mólotov favorecia um planeamento centralizado melhorado e propriedade socializada e a continuação do desenvolvimento indústrial. Mólotov afirmou: O Kruchthcovismo é o espírito burguês. Numa reunião do Comité Central organizada à presa, que terminou com o apoio a Kruchtchov e a expulsão de Mólotov, Malenkov e Kagánovitch do Comité Central e do Praesidium. [...] Tal como os anticomunistas que usam o stalinismo para atacar os comunistas, também Kruchtchov empregou a ideia, se não o termo, para difamar os seus opositores. [...] Em 1964, o período Kruchtchov chegou ao fim, quando a direcção colectiva o forçou a retirar-se. Todavia, as ideias acerca da liberalização económica e da democratização política de que Kruchtchov veio a simbolizar não terminaram com ele. [...]Bréjnev em breve emergiu como dirigente soviético máximo, e assim permanceceu até 1982. [...] Apesar das políticas erráticas e fracassadas e da relutância de Bréjnev de enfrentar os probelmas, a economia soviética continuou a mostrar muita vitalidade. [...] A URSS empregava um quarto dos cientistas do mundo [...] os salários e padrões de vida subiram firmente. A semana de trabalho fixou-se nas 40 horas para a maioria dos empregados e nas 35 para o trabalho mais pesado. [...] Em meados da década de 1980 a URSS produzia 20% dos bens industriais no mundo, tendo partido de 4% de um total muito inferior na altura da revolução.
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Depois da morte de Bréjnev, Iuri Andrópov tornou-se Secretário-geral do PCUS. [...] O ano Andropov revelou um rumo de reformas promissor, completamente diferentes do caminho escolhido por Gorbatchov, que se revelou desastroso. [...] Andropov apoiou a política da coexistência pacífica e a prevenção da guerra , mas insistiu em que o princípio da luta de classes continuava válido internacionalmente. [...] Andrópov registou as violações por Stálin da legalidade socialista e da democracia partidária, mas proclamou o direito e a necessidade de a revoluçã se defender pela força [...] Reformas de Andrópov teria funcionado. Como dirigente comunista, tinha tudo a seu favor exepto a saúde. [...] Como dirigente do KGB, Andrópov mostrou também coragem e convicção, [...] o adjunto de Andrópov denunciou e prendeu membros da malta dolce vita demonada pelo mercado negro que incluía a filha e o genro de Bréjnev. Andrópov não se intimidou mesmo peranta a investigação de crimes na família do secretário-geral.
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Em 1985 Gorbatchov assumiu o controlo de um país que enfrentava problemas de longa data, e em pouco tempo exacerbou a situação até a converter numa crise de todo o sistema. [...] Comunistas como Iegor Ligatchov e Ziugánov tornaram se críticos enérgicos de Gorbatchov. [...] Com efeito, em 1987-88 Gorbatchov despiu uma casaca ideológica e vestiu outra, embora temporariamente tivesse um braço numa manda de cada. [...] Gorbatchov começou a ver o PCUS como principal obstáculo à perestroika e decidiu usar a reforma política radical para o enfranquecer. [...] O maior golpe na economia planificada ocorreu na XIX Conferência do Partido, que abandonou o gradualismo e eemitiu uma directiva que impunha a separação entre Partido e os oranismo soviéticos e a direcção económica. [...] Fim do papel dominate e a posição monopolista do PCUS, transformando num partido parlamentar, minou a planificação central e a propriedade pública. Empurrou o PCUS para fora da gestão Económica enquanto procurava uma transição para economica de mercado. Começou a privatizar as empresas estatais e encorajou a florescente segunda economia. [...] Depois do XXVIII Congresso, desde meados de 1990 até Agosto de 1991, o Partido implodiu.
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Kruchtchov tolerara os intelectuais liberias. Depois de 1964, quando Bréjnev se tornou menos tolerante, parte da intelectualidade criou um movimento dissidente. Os dissidentes eram herdeiros da tradição bukharinista-kruchtchovista. Os dissidentes influnciaram Gorbatchov. Também forneceram elementos-chaves do programa democrata.
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A tese é a de que os problemas económicos, a presão externa e a estagnação política e ideológica que a URSS enfrentava no início da década de 1980, isoladamente ou em conjunto não provocaram o colapso soviético. Ao invés, este foi despoletado pelas políticas de reforma específica de Gorbatchov. [...] A segunda economia e a reforma de Gorbatchov desencadearam uma dialéctica de traição ao socilismo
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Toda a história do socialismo soviético mostra que a luta de classes , a luta para abolir as classes não termina com a conquista do poder de Estado. [...] Os comunistas definem o oportunismo de direita, em essência, como um recuo desnecessário e sem princípios sob a pressão de um adversário da classe. [...] No contexto da construção do socialismo, o oportunismo de direita assume normalmente a forma de uma conciliação ( em vez de um combate) com o capitalismo, interno e externo.
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[Fim da URSS] nem foi primariamente a história da traição consciente de um só homem. Foi antes a história do triunfo de uma certa tendência no interior da própria revolução. Foi uma tendência inicialmente enraizada no carácter camponês do país e mais tarde numa segunda economia, um sector que floresceu devido às exigências de consumo não satisfeitas pela primeira economia e à incapacidade das autoridades de avaliarem o perigo que ela representava e de contra ela fazerem cumprir a lei. Foi uma tendência que se manifestara em Bukhárine e Kruchtchov antes de o fazer em Gorbatchov. Foi uma tendência [...] que acreditava nas concessões ao imperalismo e, ao liberalismo, à propriedade privada e ao mercado.
Só com Gorbatchov se realizou em pleno a loucura desta orientação, quando em vez de a um novo tipo de socialismo, levou a um novo tipo de barbárie.
Roger Keeran / Thomas Kenny. In O Socialismo Traído.

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